Pará investiga vírus da poliomielite encontrado em fezes de criança

Por CLÁUDIA COLLUCCI E MATEUS VARGAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Secretaria de Saúde do Estado do Pará disse nesta quinta-feira (6) que investiga um vírus da poliomielite encontrado nas fezes de um menino de três anos no município de Santo Antônio do Tauá. O Ministério da Saúde suspeita que o caso esteja relacionado a um erro vacinal.

"O tipo de vírus detectado no exame é um dos componentes da vacina, não se tratando do pólio vírus selvagem, já erradicado no país desde 1994", ressaltou a secretaria paraense, em nota.

O Ministério da Saúde disse que vai enviar uma equipe ao estado para acompanhar a investigação. A pasta suspeita que o caso esteja relacionado a um erro na vacinação da criança.

O Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) nacional deve emitir um comunicado de risco atualizado sobre o tema.

Segundo integrantes da pasta, não existe circulação do vírus no Brasil e o caso deriva de uma provável aplicação errônea da vacina. Eles dizem temer ainda que a repercussão atrapalhe na campanha de imunização contra a doença.

De acordo com nota técnica do Cievs do governo paraense o poliovírus foi isolado nas fezes da criança. O caso havia sido previamente notificado como paralisia flácida aguda (PFA).

O menino apresentou sintomas no dia 21 de agosto de 2022, com febre, dores musculares, mialgia, comprometimento e redução motora nos membros inferiores, 24 horas após receber as vacinas tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) e VOP (vacina oral contra a poliomielite).

Segundo a nota, no dia 12 de setembro de 2022, a responsável pela criança compareceu à Unidade Básica de Saúde do município, onde relatou que no dia 21 de agosto, um dia após a vacinação, o menino apresentou dor no membro inferior direito e começou a mancar. A partir do dia 10 de setembro, perdeu a força nos membros inferiores não conseguindo se manter em pé.

A Vigilância Epidemiológica municipal afirmou que, ao tomar conhecimento, realizou visita domiciliar e solicitou pesquisa de poliovírus nas fezes da criança.

Também afirma que o esquema vacinal do menino estava incompleto. Ele não recebeu as doses da VIP (vacina inativada contra poliomielite) previamente e também possuía apenas duas doses de VOP, o que está em desacordo com as normas do PNI (Programa Nacional de Imunizações).

A coleta de fezes foi realizada no dia 16 de setembro e encaminhada ao Laboratório de Referência do Instituto Evandro Chagas. O resultado positivo saiu para Sabin Like 3 (vírus da pólio) saiu no último dia 4.

Uma equipe da vigilância epidemiológica do estado está no município para levantar e qualificar as informações, além de avaliar o quadro clínico da criança.

Segundo a nota da secretaria da Saúde, outras hipóteses diagnósticas não foram descartadas, como síndrome de Guillain-Barré. "Portanto o caso segue em investigação conforme o que é preconizado no Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde."

O médico Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), explica que como a criança havia acabado de receber a vacina Sabin, é normal encontrar o vírus nas fezes.

"Não quer dizer que ele seja o causador da paralisia. É preciso sequenciar esse vírus para ver se está íntegro, atenuado na vacina ou se sofreu alguma reversão da sua virulência e é o causador do quadro de paralisia aguda na criança."

Por isso, ele diz ser necessária uma investigação melhor, inclusive neurológica, e um sequenciamento genético do vírus encontrado nas fezes, para saber se o quadro tem relação com o vírus vacinal ou se a criança desenvolveu uma paralisia por outra doença e foi apenas uma coincidência ter acabado de tomar a vacina.

"Ela tinha um esquema não adequado de vacinação, tinha recebido só as vacinas orais, e não a vacina inativada [contra a pólio], como recomenda o Ministério da Saúde. É ainda um caso suspeito, não é um caso comprovado de paralisia pelo vírus vacinal."

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ENTENDA A POLIOMIELITE

Quais os principais sintomas e sequelas da pólio?

A sequela mais reconhecida é a paralisia de membros, mas a doença também pode causar dores nas articulações, osteoporose, atrofia muscular, dificuldade de falar, entre outras. De sintomas, são comuns dores no corpo, febre, diarreia, vômitos, rigidez na nuca e espasmos.

Quem pode se vacinar contra a poliomielite pelo SUS?

O Ministério da Saúde recomenda a vacinação em crianças que tenham de dois meses a quatro anos de idade. Há casos em que é recomendada a vacinação para maiores de cinco anos, como uma viagem para um país que vive surto da doença e o esquema vacinal ainda não está completo.

Quantas doses compõem o esquema vacinal contra a pólio?

No total, são cinco aplicações, sendo dois reforços:

- Primeira dose: aos dois meses

- Segunda dose: aos quatro meses

- Terceira dose: aos seis meses

- Primeiro reforço: aos 15 meses

- Segundo reforço: aos quatro anos

As três primeiras doses são feitas com a vacina injetável (Salk) e as duas últimas com a versão em gotinhas (Sabin).

Além da vacinação, existem outras formas de evitar a doença? Para evitar a infecção, também é importante ter cuidados com higiene básica e ter um sistema eficiente de saneamento básico.