Contra ômicron, estudos sugerem reforço de Pfizer ou Astrazeneca após Coronavac
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Duas novas pesquisas trazem mais evidências a favor da chamada mistura vacinal (esquema heterólogo) na vacinação contra Covid.
Os estudos, conduzidos no Brasil, avaliaram a eficácia em vida real (ou efetividade) das vacinas para proteger contra a Covid sintomática (ter ou não sintomas da Covid), hospitalização e óbito, e a proteção conferida por anticorpos neutralizantes (capazes de barrar a entrada do vírus nas células) no período da ômicron.
Apesar de serem dois estudos independentes, os achados foram semelhantes: duas doses de Coronavac seguidas de uma terceira dose do mesmo imunizante (esquema chamado homólogo) conferem uma baixa proteção, enquanto uma dose adicional de Pfizer ou Astrazeneca é mais eficaz contra casos sintomáticos, hospitalização e óbitos, além de conferir uma alta produção de anticorpos neutralizantes.
A primeira pesquisa, publicada na última quinta (6) na revista científica Nature Communications, avaliou indivíduos com resultado de teste do tipo RT-PCR ou antígeno positivo para o coronavírus e com aqueles com resultado negativo de um total de 1,24 milhão de testes, no período de setembro de 2021 a abril de 2022. Os dados deste estudo já haviam sido divulgados em abril.
Os cientistas encontraram uma queda significativa na eficácia das vacinas contra a ômicron tanto para Covid sintomática quanto para hospitalização e óbito, em todas as vacinas. Essa queda, no entanto, era maior para indivíduos que receberam três doses da Coronavac em comparação com aqueles que receberam duas doses de Coronavac e o reforço com Pfizer ou Astrazeneca.
Já o segundo estudo, divulgado também na quinta (6) na plataforma medRxiv na forma de pré-print (ainda sem revisão por pares) comparou os níveis de anticorpos produzidos contra a proteína S do Spike (ou espícula, usado pelo vírus para entrar nas células), contra a região de ligação do receptor (conhecida pela sigla RBD, em inglês) e de anticorpos neutralizantes até 28 dias após uma dose de reforço em indivíduos que receberam duas doses de Coronavac de novembro de 2021 a fevereiro de 2022.
Os resultados indicam que naqueles com o esquema homólogo a produção de anticorpos neutralizantes contra a variante ômicron era muito reduzida.
Por outro lado, nas pessoas que receberam duas doses de Coronavac e uma terceira dose de Pfizer ou Astrazeneca houve aumento na taxa de anticorpos dos três tipos (anti-Spike, anti-RBD e neutralizantes), incluindo daqueles específicos contra a ômicron.
Quando separadas por faixa etária (maiores ou menores de 50 anos), a produção de anticorpos após três doses de Coronavac era mais acentuada nos mais jovens, embora também fosse menor do que nos indivíduos com esquema vacinal heterólogo.
O infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Croda, que participou dos dois estudos, explicou que ambos fornecem evidências para o melhor aproveitamento das vacinas atualmente em uso no país.
"Enquanto os dados de eficácia em vida real indicam que a terceira dose, especialmente para as pessoas mais velhas, deve ser de um esquema heterólogo, os dados laboratoriais dão os primeiros resultados sobre a proteção humoral [de anticorpos] contra a ômicron, indicando uma redução significativa de anticorpos da Coronavac frente à ômicron mesmo com três doses", afirma.
Com a ômicron, as vacinas em todo o mundo tiveram suas eficácias reduzidas, especialmente na proteção para infecção. No entanto, algumas vacinas possuem uma redução muito mais acentuada do que outras, quando comparadas às respostas protetoras de anticorpos.
Já a resposta celular, mecanismo importante de defesa do nosso corpo, não foi avaliada e deve manter bons índices de proteção, especialmente contra hospitalização e óbito, afirmam os especialistas.
"Existe uma proteção de anticorpo anti-Spike e anti-RBD, mas ela é mais acentuada para a variante ancestral, enquanto para as VOCs [variantes de preocupação] importam mais os anticorpos neutralizantes. Nesse contexto, um reforço heterólogo é mais eficaz em indivíduos vacinados com Coronavac", explica.
Para ele, esses dados são importantes, pois podem ajudar a coordenar as estratégias de vacinação. "É claro que qualquer vacina é melhor do que nenhuma vacina, então em grupos que ainda não foram vacinados, como as crianças de 3 a 4 anos, é melhor um esquema primário com Coronavac do que nenhum. Mas nos adultos que já receberam duas doses é mais eficiente que a terceira dose seja diferente", diz.