Galos resgatados de rinhas passam por tratamento e ressocialização em MG

Por GISELE BARCELOS

UBERABA, MG (FOLHAPRESS) - Galos resgatados de rinhas estão sendo encaminhados para reabilitação em Minas Gerais. Projetos desenvolvidos nas cidades de Formiga, no centro-oeste do estado, e Uberaba, no Triângulo Mineiro, oferecem tratamento para ressocialização de aves resgatadas em operações da Polícia Ambiental.

Após o tratamento, as aves recuperadas podem ser adotadas por agricultores familiares.

A experiência de reabilitação começou em 2019, no Unifor (Centro Universitário de Formiga). Criador do protocolo de tratamento, o professor do curso de medicina veterinária Dênio Garcia conta que, antes, as aves resgatadas de rinhas eram encaminhadas para abate em função do comportamento agressivo que desenvolviam devido aos maus-tratos.

Foi a partir de uma proposta do Ministério Público de Minas Gerais que deram início, em Formiga, à pesquisa para reabilitação dos animais. Desde então, ao menos 1.260 galos resgatados já passaram por tratamento nas duas cidades.

Segundo Garcia, os galos explorados em rinhas são tratados de forma que fiquem agressivos. As aves são presas em gaiolas e privadas de alimentação e podem, ainda, sair mutiladas dos confrontos com outros animais. Com isso, diz o professor, perdem alguns comportamentos naturais.

"Essas aves não sabem nada. Não sabem empoleirar, não sabem ciscar nem comer num local que não seja predefinido", afirma.

O trabalho de reabilitação envolve tanto cuidados veterinários básicos, como vermifugação, como um processo de readaptação comportamental que abrange introdução de alimentação adequada para a espécie e convívio social.

"A metodologia consiste em persistência e gentileza no trato desses animais. Eles precisam reaprender a ser um galo solto", acrescenta Garcia.

Após o resgate, os galos ficam em quarentena por cerca de 30 dias. O tempo pode ser maior, dependendo do nível de estresse em que o animal chega à universidade.

Depois, as aves são submetidas a triagem e ressocialização antes de serem reintegradas à natureza. Na última etapa do tratamento, os galos são soltos em área aberta com gramado natural, junto a fêmeas, e então são monitorados.

As galinhas são parte importante do processo de readaptação, diz Garcia. Segundo ele, o convívio é necessário justamente para que os animais possam voltar a viver em comunidade. O tempo de ressocialização varia, mas a média é de cerca de três meses, diz o coordenador do projeto.

Ao final do processo, as aves recebem chips de identificação e são doadas a produtores rurais de programas de agricultura familiar cadastrados na Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural). Quem recebe o animal assina um termo de adoção com as obrigações no cuidado da ave.

Embora o projeto tenha começado em 2019, por causa do processo inicial de aprimoramento do protocolo e da pandemia de Covid-19, o trabalho realizado em Formiga se intensificou apenas em 2021, quando 650 aves foram recebidas para tratamento. Neste ano, outros 500 animais resgatados foram encaminhados para recuperação.

Desses, cerca de 400 galos concluíram todas as etapas da readaptação e foram doados a agricultores da região de Formiga.

O coordenador do projeto explica que nem todos os animais conseguem sobreviver após o resgate, pela gravidade das lesões sofridas nas rinhas e pelos maus-tratos dos antigos proprietários.

"A taxa de mortalidade é alta devido à vida pregressa, com excesso de treinamento e más condições a que eram submetidos", afirma Garcia.

Ainda assim, o resultado é considerado bem-sucedido pela equipe, e em julho do ano passado a experiência passou a ser replicada no Hospital Veterinário da Uniube, em Uberaba. Até o momento, 110 galos foram reabilitados e doados a agricultores da região, e outras dez aves seguem sob cuidados no hospital.

Alguns animais resgatados em condições críticas chegaram a passar por cirurgia para tratar feridas, localizadas principalmente no peito e nos pés. As aves ficam isoladas durante o pós-operatório e só depois seguem para a reabilitação.

Tanto em Formiga como em Uberaba o trabalho é realizado em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais, que destina par o projeto recursos provenientes de medidas compensatórias. O dinheiro é usado na aquisição de insumos como seringas, agulhas, ataduras, medicações, anestésicos, ração e microchip, além de outros serviços e despesas, como exames de cortisol para avaliação dos níveis de estresse das aves resgatadas.