Ação distribui livros no Complexo do Alemão, vitrine de política frustrada de pacificação no RJ

Por Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Ação coordenada pelo jornal Voz das Comunidades distribuiu cerca de 5.000 mil livros para moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, neste sábado (26). Chamada de Invasão de Livros, a iniciativa relembra uma das maiores operações de ocupação de comunidades na capital, em 2010.

O fundador do Voz das Comunidades, Rene Silva, diz que a ação é um forma de protesto pelo não cumprimento de promessas feitas nesses 12 anos após a ocupação. "O governo só entrou com a polícia", afirma, em nota.

Durante a campanha eleitoral, Silva organizou visita do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao complexo de favelas. A ida de Lula ao complexo foi usada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para afirmar, de forma errônea, que Lula havia negociado com traficantes.

Após a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), o Complexo do Alemão se tornou uma das vitrines das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dos governos petistas e do frustrado programa de pacificação do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral, hoje preso.

Algumas das principais obras, porém, estão hoje abandonadas. É o caso do teleférico, que custou R$ 328 milhões, fechou em 2016 para manutenção e nunca mais abriu, por um imbróglio jurídico entre o estado e a empresa administradora.

Silva cita ainda a Biblioteca Parque aberta no complexo, também desativada há seis anos. "Foi criada uma expectativa muito grande em cima da própria comunidade para que as pessoas pudessem acreditar naquele momento que a cultura teria mais investimento naquela área."

Foi a terceira edição da Invasão de Livros e contou com cerca de 70 voluntários para atender 15 localidades das comunidades do complexo. A ação conta com apoio de editoras e artistas e celebridades, como o rapper Emicida e o youtuber Felipe Neto.

Os voluntários batiam de porta em porta para chamar as crianças para receber os livros. "A iniciativa da invasão de livros é simbólica, pelo desserviço de promessas do governo de mudança social não cumpridas ao longo desses anos todos", diz Silva.

O protesto ocorreu no dia seguinte à morte de ao menos 14 pessoas em operações policiais em outras comunidades do Rio: Complexo da Maré, Morro do Juramento (os dois na capital) e Morro do Estado, em Niterói.

"Vamos subir os morros dos Complexos do Alemão e da Penha para distribuir livros! Ontem a polícia foi pra Maré distribuir bala somente!", escreveu Silva em redes sociais antes do início da ação.