Condomínio feito pelo estado na cracolândia tem muros derrubados; vizinhos temem insegurança
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os muros que cercavam os edifícios do Complexo Júlio Prestes 1, em Campos Elíseos, no centro de São Paulo, antigo endereço da cracolândia, estão sendo derrubados. No lugar dos blocos de concreto serão erguidas grades de segurança.
A ação tem motivado queixas dos moradores, que temem pela segurança, já que a localização do condomínio está a poucos metros de aglomerações de dependentes químicos, como a avenida Duque de Caxias e as ruas dos Protestantes e do Triunfo, ponto de venda e consumo de drogas em cena livre.
O condomínio possui cerca de quatro anos. A primeira torre foi entregue em 2018.
Segundo os moradores, o entorno dos imóveis sofre com constantes roubos e furtos a pedestres e motoristas.
O governo, no entanto, não entende dessa maneira, e cita que a derrubada dos muros ocorre justamente por uma melhora na região.
"O muro instalado ao redor do Complexo Júlio Prestes 1 será derrubado e substituído por grades de segurança, uma vez que não há mais necessidade de sua permanência em face dos resultados das ações conjuntas do estado e da prefeitura na região de Campos Elíseos, que garantem uma melhora no ambiente social do entorno", disse a pasta da Habitação em nota.
Ainda conforme a gestão Rodrigo Garcia (PSDB), os condomínios já são fechados e possuem um sistema de acesso com guarita, clausura e câmeras de segurança. Outra justificativa dada é que o muro não fazia parte do projeto original, instalado de forma provisória.
"Mais recentemente o síndico, subsíndicos e moradores do Complexo Júlio Prestes foram comunicados formalmente e com antecedência acerca da demolição e adequação do muro ao projeto legal aprovado'', acrescentou a nota.
Os imóveis foram construídos no quadrilátero formado pela avenida Duque de Caxias, alamedas Dino Bueno e Barão de Piracicaba e rua Helvétia. O terreno, que um dia foi uma rodoviária, era ocupado por moradores de rua e usuários de crack antes de dar vida ao empreendimento.
A demolição dos muros começou na segunda-feira (21) e desde então tem causado medo e alteração na rotina dos moradores.
"Vejo a demolição muito repentina, pois ainda não estávamos prontos para viver 'fora dos muros'. Com a constante presença dos usuários de drogas em todos os quarteirões, o receio de entrar e sair é muito grande", disse o analista de recursos humanos Rafael Ferreira, 40, morador de uma das torres.
Ele afirmou que vai reforçar a segurança dentro de seu imóvel, com a instalação de uma nova fechadura. "Já tenho uma fechadura tetra, planejo instalar mais uma, ou trocar por travas eletrônicas."
Quem também crítica a ação é a gestora de recursos humanos Michele Cavalcanti Kuklis, 36. "A queda do muro causou um certo desconforto e insegurança, os medos sempre nos assolam nessa região e de certa forma com o muro nos sentíamos mais seguros. A notícia da queda sempre nos rodeava, porém tínhamos esperança que devido aos problemas da região eles ficariam por lá."
Conforme ela, os moradores tentaram sugerir que deixassem apenas os muros cercando as entradas de cada torre, o que não teria impacto na circulação das lojas, mas não houve acordo.
As lojas que Michele citou estão no projeto original do empreendimento. Elas devem ficar no térreo, assim como uma praça.
"Nossos filhos circulavam na área comum. Tínhamos a confiança de deixá-los descer para brincar um pouco, porém, agora, não teremos mais isso, nossa rotina foi alterada", disse.
Para a enfermeira Milena Pereira, 45, a demolição dos muros vai melhorar a movimentação dos moradores pelo condomínio, mas ela também se queixa da segurança. "Vou colocar olho mágico e chave tetra na porta."
Em nota, a Habitação informou que a presença do muro dificulta a abertura das lojas comerciais térreas ao público e, sem ele, haverá maior circulação, contribuindo para a qualidade de vida da população e proporcionando uma transformação positiva da região.
A pasta acrescentou que todos os custos da demolição do muro e da instalação das grades de proteção são de responsabilidade da Concessionária PPP Habitacional SP Lote 1 S.A., sem custos para os condôminos.