Morre Octaviano Pereira dos Santos, que se mobilizou contra a ditadura e pelos direitos dos trabalhadores

Por BRUNO LUCCA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Companheiro de luta inabalável. Assim os colegas de Octaviano Pereira dos Santos, conhecido como Tigrão, o descrevem.

Santos foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região e uma das lideranças da greve de 1968, que marcou a história da resistência operária à ditadura militar.

O líder sindical nasceu em Guanambi, cidade interiorana da Bahia, em 9 de maio de 1936. Nos anos 50, migrou para o estado de São Paulo em busca de trabalho.

Em 1968, ano de eclosão da greve, Santos trabalhava na Brown Boveri, fabricante suíça de equipamentos elétricos e ferroviários. Lá, foi um dos responsáveis por fazer os trabalhadores se juntarem às manifestações em solidariedade aos operários da Cobrasma (Companhia Brasileira de Material Ferroviário), que iniciaram as mobilizações antissistema.

Pouco tempo depois, Santos foi um dos dirigentes presos pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), responsável pela repressão a comunistas, anarquistas, sindicatos e movimentos sociais durante a ditadura.

Liberado da prisão, sofreu retaliação e não conseguiu mais emprego em metalúrgicas, tendo que trabalhar como taxista por anos.

Apesar de estar fora das fábricas, ele dividiu sua rotina nas ruas com a militância sindical. Ele dizia ter a convicção de que unidos os trabalhadores são mais fortes.

Em relato feito ao grupo de trabalho da Comissão Nacional da Verdade, colegiado instituído pelo governo do Brasil em 2011 para investigar violações de direitos humanos ocorridas no período militar, ele disse nunca ter se arrependido de seus atos, os quais repetiria.

Santos foi também um dos fundadores e ex-diretor da Fapesp (Federação das Associações de Departamentos de Aposentados, Pensionistas e Idosos do Estado de São Paulo), além de ter sido fundador e ex-presidente da Uapo (União dos Aposentados e Pensionistas de Osasco).

"Em 1968, ele foi uma das lideranças sindicais que atuou para organizar os trabalhadores de Osasco por direitos. Enfrentou a prisão, sofreu retaliação, mas resistiu e, desde então, atuou em diversas lutas em defesa da classe trabalhadora, mesmo depois de aposentado", disse Gilberto Almazan, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região.

"Ele nos deixa um forte legado de luta e resistência, o qual sempre vai nos inspirar a fortalecer a cada dia a luta por um país mais justo e solidário", afirmou.

Octaviano Pereira dos Santos morreu no último dia 12 de novembro, aos 86 anos. Ele deixa cinco filhos e oito netos.