Esquina da Ipiranga e da São João ganha estátuas sob tensão de assaltos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), inaugurou nesta segunda-feira (5) a reforma da esquina mais famosa da cidade sob chuva e em meio a apreensão de sua equipe com os roubos na região central.
O cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, que ganhou novas calçadas e quatro estátuas de figuras paulistanas emblemáticas, é alvo de reclamações de moradores e comerciantes por causa da rotina de violência --que se manteve durante a manhã de inauguração.
Horas antes da cerimônia, uma pessoa ficou ferida a poucos metros da esquina após uma tentativa de assalto. Por volta das 8h20, um homem estava no ponto de ônibus quando dois jovens tentaram levar seu celular.
Segundo o relato dos funcionários que viram a cena de um estacionamento, uma lanchonete e um hotel, o homem resistiu ao roubo e um dos jovens portava um objeto pontiagudo. Ele atacou a vítima na região do tórax.
Os assaltantes foram embora sem levar o celular, e o homem ferido deitou no meio-fio, depois andou alguns metros até que o socorro chegasse. Uma viatura da Polícia Militar chegou após a fuga dos assaltantes e levou o homem ferido, segundo testemunhas.
O prefeito chegou ao local por volta das 11h20. Debaixo de guarda-chuvas, ele cumprimentou vereadores e secretários antes de caminhar até cada uma das estátuas, posicionadas nas quatro esquinas. Nunes posou para fotos ao lado dos monumentos em homenagem a Adoniran Barbosa (1912-1982), Paulo Vanzolini (1924-2013), um fotógrafo de lambe-lambe e um engraxate.
A segurança de servidores, autoridades e imprensa foi um ponto de atenção ao longo do trajeto entre as quatro esquinas. Minutos antes, duas pessoas tiveram os celulares roubados enquanto a imprensa e funcionários da prefeitura aguardavam a chegada de Nunes para a inauguração, segundo uma assessora e um fotógrafo que estavam no local. Colegas foram alertados a posicionar bolsas e mochilas à frente do corpo e não deixar celulares à vista.
Os funcionários de comércios da região dizem que casos de violência são constantes na esquina imortalizada na canção "Sampa" de Caetano Veloso. Assaltantes já conhecidos da comunidade ficam à espreita, circundando os quarteirões à espera dos clientes das lojas e restaurantes, e roubam objetos de valor --especialmente celulares e joias-- quando percebem um sinal de desatenção. Chegam a pular em direção às janelas de ônibus que passam no cruzamento para agarrar os celulares de passageiros.
Questionado, Nunes destacou que apenas a reforma da esquina não é suficiente para atrair o turismo e que a prefeitura trabalha em outras frentes para a renovação do centro. A administração municipal aposta em renovar a iluminação, colocar mais guardas municipais nas ruas, atrair mais empresas para a região e revitalizar espaços públicos.
"É uma ação conjunta de atrair investidores para cá, ter um sistema de monitoramento inteligente, ter a GCM e a Polícia Militar atuando, poder fazer com que a questão urbanística aqui seja bem cuidada, as praças e as ruas, fizemos recapeamento", disse o prefeito. "Todos nós juntos vamos dar nova vida ao centro."
Entre as ações de segurança que Nunes defendeu nesta segunda-feira está o sistema de reconhecimento facial chamado "Smart Sampa", cuja licitação foi suspensa pela própria prefeitura após críticas. O texto do edital continha o termo "vadiagem" e dizia que critérios como "cor e face" seriam levados em conta no monitoramento.
Segundo Nunes, um total de mil guardas-civis metropolitanos estão em fase de treinamento e devem entrar em atividade nos próximos meses. Com isso, ele diz, o efetivo da GCM chegará a 6.950 agentes.
O prefeito estava acompanhado na cerimônia do delegado Roberto Monteiro, chefe da 1ª Seccional de Polícia Civil, no centro. Monteiro comanda a Operação Caronte, que tem feito ações contra traficantes e usuários de droga da cracolândia.
"Creio que essa junção de esforços, de empenhos da Prefeitura de São Paulo, do governo do estado, da Segurança Pública, da comunidade e dos empresários vai fazer um centro melhor, um centro que está no nosso coração", disse o delegado. "É desejo de todos que isso aconteça."
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse que o policiamento na região central, realizado pela Polícia Militar, será "reorientado com base nos índices criminais". A secretaria informou que o número de policiais nas ruas foi ampliado desde maio, com uma operação batizada de Sufoco.
"O trabalho das polícias paulistas na capital, no mês de outubro, resultou em 2.475 prisões e apreensões de adolescentes infratores e 288 flagrantes de tráfico de drogas registrados. Foram retiradas das ruas 155 armas de fogo ilegais e apreendidas 7 toneladas de drogas no mês", disse a secretaria.
A SSP disse que o caso citado do homem ferido após tentativa de assalto na avenida São João não foi localizado pela Polícia Civil e ressaltou que é "imprescindível o registro do boletim de ocorrência".