Moradores da favela do Caboré, em São Paulo, reclamam de desassistência

Por MATHEUS OLIVEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Localizada nos distritos de Iguatemi e de José Bonifácio e separada pelo rio Aricanduva, a Favela do Caboré, na zona leste de São Paulo, traz um cenário de assistência desigual entre as subprefeituras locais.

Isso porque uma parte da favela pertence à de São Mateus, enquanto a outra fica com a administração de Itaquera. São cerca de 140 domicílios em uma área de 8.000 metros quadrados.

Um exemplo disso ocorreu durante as chuvas de verão, em março deste ano. Algumas famílias desabrigadas receberam doações de alimentos e suprimentos, enquanto outras tiveram de esperar semanas por ajuda da prefeitura.

Na época, houve também um caso trágico. O jovem Diogo Donatello, 21, morreu afogado. A mãe Catia Daniele Costa, 43, que vive de bicos, conta como as equipes de cada subprefeitura atuaram.

"A enchente começou às 6h. Quando foi às 9h, meu filho caiu no rio. O pessoal da Subprefeitura de São Mateus já estava aqui, e a equipe de Itaquera veio depois de uma semana", relembra Catia, moradora da favela há 15 anos.

Paola Dias, 41, desempregada, foi uma das pessoas que precisou de assistência. Ela teve a casa invadida pela água e precisou de ajuda de familiares para se reorganizar.

"É uma briga porque os moradores de São Mateus não querem que a turma de Itaquera passe para o lado de lá. Neste ano, a Subprefeitura de Itaquera ainda veio dar assistência, porque deu uma enchente muito mais forte do que a outra", diz.

Problemas o ano inteiro Serviços como saúde e educação também não respeitam a divisão municipal, o que confunde e atrasa o atendimento das famílias.

Um lado da favela pertence à DRE (Diretoria Regional de Ensino) e à STS (Supervisão Técnica de Saúde) de São Mateus, enquanto os moradores na outra extremidade devem procurar os serviços em Itaquera.

Na prática, as famílias de ambos os lados do rio são atendidas pelas UBS (Unidades Básicas de Saúde) Jardim Roseli e Boa Esperança, no distrito do Iguatemi.

As crianças estudam nas escolas municipais Professor Benedito Montenegro e Professora Dirce Genésio dos Santos, conforme disponibilidade de vagas nas escolas da região, sem distinção de subprefeitura.

A Favela do Caboré não conta com nenhum equipamento público de saúde e educação. Existe apenas a unidade do CCA (Centro para Crianças e Adolescentes) São João, que oferece alimentação, atividades recreativas e contraturno escolar a jovens de 6 a 14 anos de idade.

A coordenadora do centro, Diana da Silva Rodrigues, 42, diz que os serviços básicos são entregues à população de diferentes maneiras. "As famílias costumam olhar para essa divisão de acordo com o serviço. A educação tem uma territorialidade diferente, a saúde já tem outra."

Ela conta que as enchentes são o momento em que a divisão entre São Mateus e Itaquera fica mais evidente na comunidade. "É um transtorno conseguir falar com quem responde por isso, é bem complicado mesmo", lamenta.

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Subprefeituras lista diversas ações desempenhadas nas áreas de assistência social, habitação, limpeza das margens e de rios e situação geológica da Favela do Caboré, mas não pondera sobre os atendimentos específicos em cada subprefeitura.

Sobre as doações em março deste ano, a pasta afirma que "ao todo, 543 famílias, que totalizam 2.310 pessoas, foram atendidas durante estas ocorrências, sendo distribuídos mais de 5.200 itens de primeira necessidade (colchões, cobertores, cestas básicas, kits de limpeza e higiene)".