Vacina que protege contra chikungunya mantém anticorpos 1 ano após aplicação

Por SAMUEL FERNANDES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma vacina produzida contra chikungunya manteve níveis altos de anticorpos mesmo um ano após a aplicação de uma dose. O resultado complementa um estudo clínico que observou segurança e capacidade de gerar resposta imune pelo imunizante.

O fármaco foi desenvolvido pelo laboratório Valneva em parceria com o Instituto Butantan e, por enquanto, é a única vacina com potencial para prevenir a infecção. Ela foi projetada para ser só de dose única e consiste em um vírus atenuado que não tem a capacidade de infectar as células. Segundo a Valneva, ao deletar uma parte do genoma do patógeno, foi possível desenvolver o fármaco.

Em março deste ano, uma pesquisa de fase três, último estágio de um estudo clínico, com 4.115 participantes dos Estados Unidos observou uma taxa de 96% de participantes com produção de anticorpos contra o patógeno após seis meses da imunização.

Desde então, a equipe de pesquisadores acompanhou 363 adultos até completarem um ano de vacinação a fim de observar os níveis de anticorpos. Desses, 99% mantiveram níveis altos de resposta imune depois de 12 meses de receber a dose única. Além disso, a persistência nos níveis de anticorpos foi semelhante entre os participantes com mais de 65 anos e aqueles adultos mais jovens.

"Esses níveis de anticorpos confirmam o perfil de persistência dos anticorpos observado em estudos anteriores", afirmou a Valneva em comunicado oficial.

No momento, a expectativa do laboratório é finalizar até o final deste ano um pedido de licença para a vacina no FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos), órgão que regula a aprovação de fármacos nos Estados Unidos.

"Se nossa vacina experimental for aprovada, estamos confiantes de que ela pode ajudar a enfrentar essa grande, crescente e não atendida ameaça à saúde pública", afirmou Juan Carlos Jaramillo, diretor-médico do laboratório, no comunicado oficial.

O vírus que causa a chikungunya é transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito transmissor da dengue e da zika. Febre, manchas avermelhadas, dores nas articulações e na cabeça são alguns dos sintomas da doença.

Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde com informações da semana de 20 a 26 de novembro, o Brasil registrou mais de 170 mil casos prováveis da doença desde o início do ano. Comparado a 2021, ocorreu um aumento de 80% dos diagnósticos para o mesmo período.

Em relação a mortes, o Brasil já registra 85 neste ano. O número, no entanto, pode ser maior: 20 óbitos são suspeitos e estão em investigação no país.

Estudo brasileiro Além da investigação já realizada nos Estados Unidos, outra pesquisa clínica vem sendo feita no Brasil com a mesma vacina. Com colaboração do Butantan, o estudo teve início em janeiro deste ano e tem previsão de durar por 15 meses.

A diferença da versão brasileira é que o foco será mensurar a segurança e a capacidade de gerar imunidade em adolescentes que tiveram a doença e naqueles sem registro prévio da infecção.

No total, são 750 participantes da pesquisa espalhados por dez centros de pesquisa em diferentes regiões do Brasil.