Entenda o risco que a variante XBB.1.5 pode trazer para o Brasil

Por ANA BOTTALLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A nova variante do coronavírus, responsável pelo aumento recente de casos nos Estados Unidos, já chegou ao Brasil.

O primeiro caso foi identificado na última quarta (4), mas é provável que a XBB.1.5 já esteja circulando pelo país, segundo especialistas. Ela foi considerada a mais transmissível até agora pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

A XBB.1.5 está se espalhando rapidamente principalmente em lugares em que a cobertura vacinal de quarta dose (ou segundo reforço) está baixa. Por isso, o Brasil deve estar alerta para uma possível subida de casos nos próximos dias.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para saber medidas de proteção e ações estratégicas de vigilância da XBB.1.5 no país, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

Segundo o infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Croda, a variante é mais transmissível por apresentar uma mutação na proteína S (ou espícula, utilizada pelo vírus para entrar nas células do hospedeiro) que gera mais afinidade ao receptor na célula, chamado ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2). "Essa mutação leva a maior transmissibilidade, replicando no organismo humano com mais eficiência", afirma.

A XBB.1.5 surgiu de uma recombinação de duas subvariantes da BA.2 da ômicron e chegou a 40,5% das amostras do vírus sequenciadas nos EUA até o dia 31 de dezembro, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano.

Por aqui, embora as análises de sequências sejam feitas em menor escala, a variante dominante continua sendo a BQ.1 e suas descendentes. É provável, porém, que a XBB.1.5 também consiga superar a BQ.1 dada a sua capacidade de espalhamento.

Ainda de acordo com Croda, como neste período de férias muitas pessoas viajam para fora do país, especialmente para EUA e países da Europa, uma ação nos aeroportos para monitorar a sua disseminação deveria ser implementada. "A vigilância genômica adequada ajuda a identificar sempre que necessário a introdução de novas variantes e monitorar a circulação delas."

Além da preocupação sobre a velocidade com que ela se dissemina, a variante traz mutações com o chamado escape imunológico, isto é, quando ela consegue driblar a proteção de anticorpos conferida por vacinação ou infecção prévia.

Em um estudo publicado na revista científica Cell no dia 13 de dezembro, quando testada com o plasma de pessoas que receberam a vacinação de três ou quatro doses de imunizantes ou de pessoas infectadas por outras cepas da ômicron, o nível de anticorpos neutralizantes contra a XBB.1.5 foi bastante reduzido. O mesmo ocorreu quando foram testados os anticorpos monoclonais, como aqueles usados para tratar doentes graves, contra a variante, demonstrando um efeito muito abaixo do esperado.

É importante, porém, lembrar que a proteção de anticorpos é uma, mas não a única forma de defesa do sistema imune, lembra Helena Lage, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP.

De acordo com ela, as vacinas, principalmente as bivalentes, que contêm a cepa ancestral do vírus e as variantes da ômicron em sua formulação, ainda conseguem oferecer uma alta proteção, especialmente contra hospitalizações e óbitos.

"A vacina bivalente vai oferecer uma melhor proteção contra essa e outras variantes, mas outras formas de proteção como anticorpos que não sejam de neutralização e a própria imunidade celular também são importantes para proteger os pacientes de desenvolver a doença grave e morte", diz.

Em relação ao quadro clínico e sintomas, ainda não há dados do CDC ou da OMS que confirmem se a XBB.1.5 tem alguma alteração em relação às outras sublinhagens da ômicron. "Em alguns locais dos EUA houve uma pressão nos hospitais com aumento de hospitalizações, mas não temos ainda dados que ajudem a entender se é por causa de um aumento de infecções em decorrência das aglomerações de final de ano ou se é relacionado à variante", explica ela.

Lage afirma que seria indispensável que as vacinas bivalentes já aprovadas pela Anvisa fossem oferecidas à população quanto antes. "Como elas têm um componente das novas variantes elas protegem contra essas e outras que podem surgir."

A mesma visão é compartilhada por Croda, da Fiocruz. "As bivalentes são superiores em relação às fórmulas tradicionais no que diz respeito à proteção de doença sintomática e também na duração dessa proteção. Então por mais que agora esteja em um momento de queda nos casos e de estabilidade na média móvel, não sabemos se é fluxo ainda do final do ano, mas, se essa variante vier a substituir a BQ.1, como ocorreu em outros lugares, precisamos das vacinas atualizadas."