Janeiro sem proteína animal do Veganuary completa dez anos

Por DANIELLE CASTRO

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro mês do ano é visto como um bom momento para começar algo ou pôr em prática aquelas metas sempre adiadas, especialmente as ligadas à alimentação. Pegando carona nessa ideia, o projeto Veganuary propõe experimentar o veganismo por 31 dias a partir de janeiro.

Criado há dez anos, o experimento estima ter alcançado cerca de 2 milhões de inscritos, sendo 629 mil deles em 2022 -o projeto estima que, para cada inscrição, duas a três pessoas participam juntas da dieta e que, no total, até dez pessoas são afetadas, em média, pelo participante inicial.

"O Brasil segue os resultados internacionais, nos quais cerca de 40% dos participantes indicam que se manterão no veganismo em razão de terem aprendido mais sobre esse estilo de vida, por sentirem melhoras na saúde e também pela comida saborosa", afirma Maurício Serrano, diretor do Veganuary na América Latina.

De acordo com os questionários pós-desafio dos brasileiros, os itens que fizeram mais falta durante o experimento foram queijo, ovos e carne de peixe. "Sair para comer fora de casa foi o mais desafiador, algo que se repete em âmbito internacional. Por isso, neste ano temos dado ênfase a essas necessidades na campanha", diz o diretor.

Dos que não continuaram veganos no país após a edição passada, 85% disseram ter tido uma redução significativa do consumo de produtos de origem animal.

E como funciona? Tudo começa com a assinatura gratuita de uma newsletter diária (pelo site veganuary.com) que reúne dicas, informações, links para comunidades e redes sociais de suporte ao veganismo. O material, com versão em português, é enviado por 31 dias via email e inclui um kit para iniciantes. A ideia é esclarecer dúvidas sobre como fazer uma dieta vegana segura para saúde e também quebrar alguns tabus, como o de que é difícil adotar o veganismo para crianças.

A participação dá direito a um ebook com as receitas veganas favoritas de celebridades. Neste ano, a cantora Anitta, por exemplo, que não é vegana, mas consome e investe na produção de alimentos veganos, enviou ao projeto como fazer três de seus pratos sem proteína animal prediletos.

Criadora audiovisual e ex-BBB, Hana Khalil tem 26 anos, é vegana desde 2016 e foi escolhida para ser embaixadora de 2023 do Veganuary no Brasil.

Ela diz que sua decisão de mudar a alimentação veio depois de assistir a um documentário sobre a indústria do leite e que o Veganuary a ajudou na sua transição. "Neste mês, está fazendo sete anos que sou vegana. Não tinha muita gente vegana na época. Então, me ajudou a entender várias esferas do veganismo", afirmou ela.

Khalil defende que o veganismo precisa de mais informações sobre o tema circulando. "O fato de as pessoas acharem que peixe e salsicha não são alimentos de origem animal está ligado ao especismo, a concepção humana do que é carne, do que é um animal vivo e senciente", diz a embaixadora.

A professora de inglês Katia Carvalho, 55, fez no ano passado o Veganuary e gostou tanto que resolveu implantar a filosofia para uma comunidade inteira. Ela diz que já conseguiu adotar o veganismo em 80% das refeições do Instituto A Casa do Jardim, que atende 80 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em Santo André, no ABC paulista.

A ideia, no entanto, ainda esbarra em custos. "Infelizmente, ainda não conseguimos substituto para o ovo. Nós vimos que já existe um vegano, mas ainda não temos condições de comprar. Tudo é muito caro", diz a professora.

O projeto recebe doações das empresas Supermercado Sonda, Leite Purifica, Leite B+, Tofu da Ecobras, Pão de Beijo, Casa da Coxinha Vegana, Mr. Veggy e Vegabom.

Segundo Carvalho, além de se alimentarem no instituto, as crianças levam, de segunda e de sexta-feira, legumes, verduras e frutas para suas casas e, a cada 15 dias, cestas básicas".

Há 400 crianças na fila de espera para uma vaga no projeto. Os alunos têm entre 5 e 16 anos e aprovam o cardápio, de acordo com a professora. "Eles amam arroz e feijão, sempre tem um tipo de farofa com legumes e ora-pro-nóbis e um complemento: torta, bolinhos, feijoada vegana, panqueca de abóbora, carne de jaca, lasanha de berinjela, sopas com muitos legumes... Elas comem sem problema e repetem muito."

De sobremesa, são servidas frutas e doces como brigadeiro de chuchu, beijinho de mandioca e musse de caqui. "Nós tentamos diversificar as receitas. Graças às nossas atividades e ao veganismo, estamos ajudando a formar jovens muito mais amorosos e conscientes. Temos também uma médica que faz o acompanhamento quinzenal e a saúde de todos melhorou muito", comemora a professora.