Governo vai respeitar 1º da lista para reitor de universidades, diz Lula

Por PAULO SALDAÑA E RENATO MACHADO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que vai nomear para reitor os docentes escolhidos pelas universidades federais. A postura vai representar uma inflexão com relação ao governo de Jair Bolsonaro (PL), que adotou política aberta de nomear dirigentes alinhados ideologicamente.

O presidente participou na manhã desta quinta-feira (19) de encontro com reitores de instituições federais de ensino superior no Palácio do Planalto.

"Não pensem que o Lula vai escolher o reitor que ele gosta. Quem tem de gostar do reitor são os professores da universidade, são os funcionários das universidades, é a comunidade universitária que tem de saber quem pode administrar a universidade", disse Lula, que garantiu o respeito da vontade da comunidade e prometeu encontro anual com reitores.

A reunião no Planalto contou com a participação de cerca de 100 reitores de universidades e institutos federais de educação. Participaram ainda os ministros Rui Costa (Casa Civil), Márcio Macedo (Secretaria-geral da Presidência), Camilo Santana (Educação) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação).

Camilo também disse que "o governo vai respeitar e nomear todos os reitores que foram escolhidos pela comunidade em sua consulta".

Bolsonaro quebrou, em sua gestão, uma tradição de nomear o primeiro colocado de uma lista tríplice produzida pelas universidades após consulta à comunidade. O ex-presidente desconsiderou o mais votado em ao menos 40% das nomeações para reitor, segundo balanço feito até 2021.

A quantidade de vezes que Bolsonaro desconsiderou o mais votado e as motivações políticas e ideológicas por trás dessas escolhas levaram docentes a apontar um ataque ao princípio constitucional da autonomia universitária. Na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), por exemplo, a escolha de Carlos Bulhões, o 3º colocado, foi anunciada com antecedência pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS), explicitando a interferência política.

Na abertura do encontro, Lula disse que a reunião com os reitores era um "encontro com a civilização" e cutucou Bolsonaro por não ter recebido os dirigentes.

"Vocês precisam saber que encontro com vocês é encontro da civilização. Eu nunca consegui compreender qual era a dificuldade que o presidente da República tinha para se encontrar com reitores uma vez por ano. Não conheço na história presidente que [não] tenha recebido conjunto de reitores e a única explicação era medo que vocês iriam fazer reivindicações", afirmou.

Lula também atacou Bolsonaro ao falar que os reitores viveram quatro anos de "obscurantismo". E ressaltou que se trata de um novo tempo para a educação superior brasileira.

"Não existe na história da humanidade nenhum país que conseguiu se desenvolver sem que antes tivesse conseguido resolver o problema da formação de seu povo. Então estamos começando um novo momento. Eu sei do obscurantismo que vocês viveram nos últimos quatro anos. Quero dizer que estamos saindo das trevas para voltar à luminosidade de um novo tempo", afirmou.

Lula defendeu o respeito da autonomia universitária. Camilo, por sua vez, prometeu retomar as obras paradas. Segundo ministro, há obras abandonadas em 259 campi de instituições federais.

Ele prometeu retomar investimentos em políticas de inclusão voltadas para o ensino superior privado, como o Fies (Financiamento Estudantil) e ProUni (Programa Universidade para Todos).

Em quatro anos, Bolsonaro não fez um encontro conjunto com os reitores das instituições federais de ensino superior. Além disso, seu governo manteve uma tônica de ataque às universidades.

As instituições federais passaram por reduções sistemáticas de orçamento. Algumas, como a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ameaçaram interromper as atividades por falta de recursos.

Um dos ministros da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub manteve fortes críticas às universidades federais, que seriam, segundo ele, locais de uso de drogas, desperdício de dinheiro e palco de ideologização de esquerda.