Força Nacional do SUS embarca para dar assistência a yanomamis
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma equipe de profissionais da Força Nacional do SUS embarcou na tarde desta segunda-feira (23) para Roraima, com a missão de reforçar o atendimento a indígenas com problemas de desnutrição e doenças em território yanomami. O voo com a equipe decolou da Base Aérea de Brasília por volta das 15h10.
Segundo o Ministério da Saúde, 12 pessoas viajaram para a capital Boa Vista. Elas prestarão serviços na Casa de Saúde Indígena (Casai) e no hospital de campanha que está sendo preparado pelo Exército.
Ao todo, são 11 voluntários assistenciais e um integrante da equipe de gestão central.
Também foram enviados equipamentos de atendimento de emergência, como pranchas rígidas e desfibriladores externos automáticos (DEA).
Na sexta-feira, o ministério decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária que atinge os yanomamis.
Além da declaração, houve a instalação de um Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública. Uma equipe técnica está em Roraima há mais de uma semana, e há a previsão de funcionamento de um hospital de campanha para atendimento aos indígenas, onde vão atuar os integrantes da Força Nacional do SUS que viajaram nesta segunda.
"Essa mobilização [o embarque da equipe] é uma das estratégias. Todos os profissionais atuarão de acordo com as determinações do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública [COE-Yanomami] e da Força Nacional do SUS", afirmou Nilton Pereira Júnior, diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência (Dahu), do ministério.
"É uma situação difícil, em que as pessoas estão morrendo de fome, de desassistência, de falta de acesso à água e bens básicos", disse.
No sábado (21), acompanhado de ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou unidades de saúde indígena na capital Boa Vista, o que deu visibilidade à crise de saúde no território, agravada pela presença ilegal de 20 mil garimpeiros na reserva.
Lula disse ter se impressionado com as imagens, como a de uma mulher que morreu na semana passada.
A indígena fotografada em condições severas de desnutrição, cuja imagem foi divulgada para denunciar as condições de saúde dos indígenas na maior terra indígena do Brasil, morreu na semana passada em sua comunidade. A informação foi divulgada por Júnior Yanomami, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) dos Yanomami e Ye'kuana.
Nas redes sociais, Júnior Yanomami pediu que a imagem da mulher desnutrida deixasse de ser replicada e disse que a morte ocorreu na semana passada.
Os indicadores de mortes e enfermidades, as fotos de crianças e idosos desnutridos, a constatação da falta de medicamentos básicos e a desassistência em saúde na terra yanomami não são novidades e foram denunciados ao longo de todo o governo Jair Bolsonaro (PL).
Na avaliação de especialistas e pessoas ligadas a entidades indígenas, a situação tem como vetores principais a invasão de garimpeiros ilegais e a degradação contínua e acelerada no atendimento de saúde para essa população, ambos nos últimos anos.
A falta de assistência chegou ao ponto de a PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) fazerem uma operação em novembro para combater suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos para os yanomamis.
O problema se agravou ao longo da gestão passada, houve inúmeros alertas e pedidos de socorro e até mesmo uma operação foi feita pela PF para tentar reverter um processo de desabastecimento de medicamentos básicos contra verminoses.
De acordo com o MPF, 52% das crianças yanomamis estão desnutridas. Nas comunidades mais isoladas, o índice chega a 80%. Esses indicadores são piores do que os registrados em países do sul da Ásia e da África Subsaariana, onde estão os países com mais desnutrição infantil, conforme a recomendação do MPF.
O quadro crítico é notado também com a malária. Foram 44 mil casos da doença em menos de dois anos, e o cenário é de que toda a população yanomami, de 28 mil indígenas, foi infectada, com descontrole do surto, como descreve o MPF na recomendação em novembro de 2021.