'Glória Maria entrou com a autoridade de quem sabe o que faz', lembra Chico Pinheiro sobre primeiro encontro com jornalista

Por MÔNICA BERGAMO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O jornalista Chico Pinheiro, que foi colega de Glória Maria durante anos na Globo, se lembra com carinho do dia em que conheceu a jornalista pessoalmente. Foi em 1977, quando ele era chefe de reportagem da emissora em Belo Horizonte, e Glória foi até o local para fazer uma gravação em Ouro Preto.

"Eram dez horas da manhã quando ela entrou na redação, que estava cheia. Ela imobilizou todo o mundo. A entrada da Glória era 'a glória'", diz Chico à coluna.

"Era raríssimo você ter uma repórter negra naquela época. Ela entrou com autoridade de quem sabe o que está fazendo e sabe o poder que tem. Isso foi uma coisa que me espantou. Foi um furacão", recorda.

Depois daquele dia, o jornalista conta que se encontrou diversas vezes com ela. "E era sempre assim: Glória chamava todas as atenções com um monte de história, um monte de coisas para contar, um monte de perguntas prontas para fazer".

Chico diz que logo que recebeu a notícia da morte da colega de profissão, na manhã desta quinta-feira (2), se lembrou que o candomblé celebra na mesma data o Dia de Iemanjá. "Eu fiquei pensando sobre a grande pergunta que ela fez durante toda a vida e não teve resposta, que é sobre o mistério [da morte], sobre a transcendência", diz.

"Eu não tenho certeza de nada, muito pouco eu sei. Mas a sensação que eu tenho é que agora, nas profundezas do mar e do mistério, Iemanjá já mostrou a Glória a resposta dessa pergunta", afirma ele.

Chico diz ainda que, mesmo durante o tratamento contra o câncer, Glória não se deixava abater.

"É um privilégio a gente ter tido Glória Maria inspirando e abrindo caminhos para tantas meninas, ensinando que é possível, sim, uma menina de origem pobre, uma menina preta se agigantar mesmo com o seu 1,60 e pouco de altura", destaca.

"Vai deixar muita saudade, mas deixa um exemplo", conclui ele.