Células CAR-T são eficazes contra câncer de ovário em estudo em camundongos

Por ANA BOTTALLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma nova pesquisa mostrou que a terapia com células CAR-T foi eficaz contra o câncer de ovário em camundongos, um feito até então não atingido para tratamentos de câncer de tumores sólidos.

De acordo com o estudo, em alguns dos camundongos estudados não havia mais nenhuma célula cancerígena detectável, o que fez os cientistas acreditarem que a terapia foi eficaz em tratar de maneira definitiva a doença.

Apesar de serem resultados obtidos em animais em laboratório, os pesquisadores estão confiantes que a terapia pode trazer efeitos similares em mulheres com câncer ovariano.

A pesquisa, publicada nesta segunda-feira (6) na revista especializada Journal for ImmunoTherapy of Cancer, foi desenvolvida por cientistas do Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia).

As células CAR-T são células do sistema imune (conhecidas como linfócitos T) extraídas do paciente e geneticamente modificadas para reconhecer e atacar as células tumorais. Elas são então reintroduzidas no paciente e se tornam mais eficazes em identificar o foco de câncer e atacá-lo.

A terapia CAR-T tem obtido sucesso no tratamento de alguns tipos de câncer do sistema sanguíneo, linfomas e leucemias, mas não há comprovação de eficácia contra tumores sólidos. Nesses casos, as quimioterapias, radioterapias ou tratamentos como imunoterapia tendem a surtir mais efeito.

No caso do câncer de ovário, alguns tumores apresentam uma proteína associada chamada mesotelina. Os pesquisadores do Instituto Karolinska usaram então três tipos diferentes de células CAR-T modificadas para detectar esse composto.

Nos testes conduzidos em tubos de ensaio em laboratório, os três tipos de células apresentaram resultados contra as células cancerígenas do tumor. Após a reintrodução nos camundongos, 1 dos 3 tipos obteve uma eficácia elevada em relação às outras, com uma redução significativa no tamanho do tumor e aumento da sobrevida. E alguns foram curados das células tumorais.

"Em muitos camundongos, não havia mais células do tumor detectáveis, e o efeito da terapia continuou mesmo três meses após o início do tratamento. Esta é uma evidência clara de como a imunoterapia com células CAR-T foi eficaz em atacar as células expressando a mesotelina de tumor de ovário", disse Jonas Mattsson, um dos coordenadores da pesquisa e professor do Departamento de Oncologia e Patologia do instituto .

Isabelle Magalhães, que também é uma das coordenadoras do estudo e professora associada no mesmo departamento, diz acreditar que os resultados trazem esperança para o tratamento deste que é um dos tipos de câncer com a taxa de mortalidade mais alta: cerca de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de ovário morrem até cinco anos após o diagnóstico.

"Apesar de muitos avanços no tratamento para câncer nos últimos anos, o prognóstico para a maioria das mulheres com câncer de ovário continua sendo ruim", afirmou.

Um dos problemas do câncer de ovário é justamente na detecção, uma vez que ele é, em geral, assintomático, ainda mais considerando mulheres mais velhas. Se feita na fase inicial, a chance de cura é de 80% a 90%.

O tratamento mais utilizado é a cirurgia aliada à radioterapia ou quimioterapia, que pode ter início até mesmo antes da intervenção cirúrgica. Outros tipos de tratamentos vão depender também do estágio da doença e se ela se espalhou para outras partes do organismo.

No Brasil, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), são diagnosticados cerca de 6.000 novos casos por ano de câncer de ovário.

A expectativa dos cientistas do Instituto Karolinska é, agora, abrir possibilidades para ensaios clínicos com o tratamento. "Nosso objetivo é conseguir criar as condições ideais para células CAR-T que consigam se infiltrar e atacar o tumor e sobreviver no corpo das mulheres com câncer de ovário", afirma Mattsson.

A pesquisa teve apoio financeiro da Sociedade Sueca para Câncer, da Fundação Sueca para Câncer Infantil, do Fundo Radium Hemmet de Pesquisa para Câncer e recebeu doações do casal de milionários e empresários suecos Jeanette e Harald Mix.