Fogo e Paixão
“Você é luz, é raio, estrela e luar, manhã de sol, meu iaiá, meu ioiô...”. O verso da música do cantor Wando anuncia a volta do brega ao carnaval carioca. O Bloco Fogo e Paixão ocupa novamente o Largo de São Francisco de Paula, no centro da cidade, depois de dois anos de interrupção por causa da pandemia do coronavírus. Situação que é lembrada no tema desse ano: Reencontro da Paixão.
No repertório, estão músicas tradicionais que estiveram presentes em todas as 11 edições do bloco. As que mais mexem com o público, segundo os organizadores, são “Evidências” (Chitãozinho & Xororó), “O meu sangue ferve por você” (Sidney Magal) e “O amor e poder” (Rosana). Além da própria música que dá nome ao bloco, é claro.
Novidades
Mas a apresentação desse ano também tem novidades. Músicas de João Gomes, Glória Groove e Léo Santana estão sendo tocadas pela primeira vez.
Também há espaço para homenagear duas cantoras que morreram nos últimos dois anos: Gal Costa e Marília Mendonça. E participações especiais de dois cantores. O primeiro é João Cavalcanti, que veio do grupo Casuarina. Os responsáveis pelo bloco o chamaram depois de ver um show do cantor com a Orquestra Sinfônica de Salvador, onde ele cantava clássicos do brega. O segundo convidado é Bartô Galeno, compositor ícone do brega raiz no Nordeste. A música Saudade Rosa, de autoria dele, foi resgatada e fez sucesso recentemente em memes nas redes sociais.
Brega é pop
João Marcelo de Oliveira, um dos organizadores do Fogo e Paixão, celebra o sucesso que o grupo alcançou no carnaval carioca e não tem dúvidas: o brega é pop.
“A gente faz um trabalho durante todos esses anos – e acho que a gente foi bem sucedido – de desconstruir a imagem pejorativa do brega. Ele é um jeito de ser. A gente brinca que o brega é muito: ama muito, sofre muito, é muito colorido. O brega é sempre um tom acima. E quando é alegre, é muito alegre. E as músicas que a gente escolhe para o repertório são músicas que todo mundo sabe cantar. Às vezes, a pessoa tem vergonha de cantar em público ou, às vezes, nem sabe que conhece a música. Mas quando ela toca, ela canta junto.”
Em 2020, o bloco comemorou 10 anos de existência. Ele foi criado no final de 2010 e fez o primeiro desfile no Carnaval de 2011. Tudo começou com batuqueiros de outros blocos, que viajavam juntos e se reuniam em bares. Nessas rodas de música e cerveja, alguém percebeu que a hora mais animada do encontro era sempre quando alguém puxava uma música brega. E aí, surgiu a ideia de fazer um bloco dedicado ao estilo musical popular.
No primeiro ano, sem muita expectativa, os fundadores esperavam contar com 15 a 20 pessoas para a bateria. Mas no primeiro ensaio, apareceram mais de 50 ritmistas. Hoje, incluindo bateria, equipe técnica e apoio, são cerca de 150 pessoas envolvidas na organização do bloco. No primeiro Carnaval, o público foi de 1500 a 2000 pessoas no Largo de São Francisco. O número aumentou com o tempo e, nos últimos três anos, a média de foliões ficou entre 30 e 40 mil.