Distrito de São Luiz do Paraitinga se recupera após enchente que adiou Carnaval

Por LUCAS LACERDA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A cidade de São Luiz do Paraitinga, a 174 km da capital paulista, viu o sonho de retomar seu Carnaval após as restrições da pandemia ficar mais distante. Fortes chuvas no domingo (12) fizeram os córregos do Pinga e do Chapéu transbordarem, cortando acesso aos bairros homônimos, localizados no distrito de Catuçaba, que teve as ruas inundadas e 700 pessoas retiradas de casa.

Moradores ainda retiravam lodo e lama das casas e do comércio na última quarta (15), após verem a correnteza levar móveis, eletrodomésticos e até carros.

Com a equipe dedicada a reparos e ajuda médica e humanitária, com comida, água, colchões e remédios, a prefeitura decidiu adiar a festa oficial para abril, no feriado de Tiradentes.

Enchentes são comuns na região, contaram moradores do distrito, a 18 km de São Luiz, mas nunca se viu uma tão rápida e devastadora quanto essa. Elizabeth Cardoso, 65, descansava em casa, por volta das 17h, quando foi avisada pelo filho do alagamento.

"Só deu tempo de pegar cinco cachorros, enfiar no carro e empurrar para ele pegar no tranco. Foi que nem aquilo em Brumadinho, como se tirasse a tampa de um tanque. Não deu tempo de salvar nada", disse Elizabeth, enquanto outros três filhos e a nora limpavam a casa, sem móveis e portas, com a marca da água na metade das paredes.

A 500 metros dali, Rosângela Breves, 48, preparava-se para ir à missa e ouviu o marido, Tadeu Breves, 60, gritar para que ela saísse de casa.

"Há 40 anos morando aqui, nunca vi uma dessa, nem em 2010", disse Tadeu, que ajudou a levar vizinhos e parentes para casas em uma área mais elevada, mas ainda na margem do Chapéu. Há mais de uma década, a cheia de 2010 fez o rio subir 12 m e destruiu parte da igreja matriz.

Eles ficaram na casa de uma tia de Rosângela até voltarem para limpar a casa na segunda. Conseguiram salvar a motocicleta, a geladeira e a maior parte dos móveis. Desempregado há três anos, Tadeu comemorava a volta para casa ileso. "O resto a gente dá jeito."

Quem não pôde contar com a casa de parentes ou amigos conseguiu se abrigar no centro pastoral da vila. Na quarta, já não havia pessoas abrigadas, mas o local continuava a fornecer comida, água e doações de roupa.

A concentração de servidores foi um dos motivos para o adiamento do Carnaval anunciado na última segunda (13) pela prefeitura, além da comoção pelos danos causados à população.

Uma equipe formada por agentes da pasta municipal de agricultura, junto com a Defesa Civil paulista, tem trabalhado nos bairros Pinga e Chapéu. O caminho para o primeiro já foi recuperado, com a retirada de árvores e de terra após a queda de barreiras, com a ajuda da comunidade local.

Já no Chapéu, a situação é mais delicada. Quatro pontes que dão acesso ao local foram danificadas pela correnteza. "É complicado porque é uma forte região de produção de leite do município. Conseguimos restabelecer uma ponte até ontem, de cimento, e um caminhão já conseguiu passar para não perder a produção", diz o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Rodolfo Machado.

As equipes seguem na recuperação das outras pontes e ajudam na distribuição de comida e remédios para os bairros, que ficam a cerca de 5 km do centro de Catuçaba.

Na principal via do distrito, o comerciante Edson Luis, 41, fazia a parte final da limpeza. A mesa de sinuca foi salva, assim como a maior parte dos equipamentos.

"Desci correndo e desliguei a chave de energia. Perdemos alguns produtos que estavam nas prateleiras de baixo, alguns salgados, mas dá para recuperar o resto."

Já um comerciante que não quis se identificar disse que ainda não teve coragem de abrir a loja para limpá-la e contar os prejuízos.

Quem viveu a enchente de 2010, outra ocasião em que o Carnaval foi cancelado, põe a esperança no senso de comunidade para a recuperação.

"Ajudei muito na época do rafting, a passar de barco e tirar gente que ficou presa. Precisamos ter calma e ajudar primeiro quem mais precisa", diz Douglas Correa, 41. Ele administra uma casa de temporada na região, e estava fora na hora do alagamento. Na quarta, colocava roupas e itens domésticos para secar sobre o capô do carro.

Apesar de concentrada em Catuçaba, a enchente também fez subir o rio Paraitinga, no centro histórico da cidade, e a água manchou um cartaz que anunciava os blocos e dois bonecos de carnaval.

O trecho, formado pelas ruas dos Presottos e Ailton Rangel Presotto, registrou alagamentos nos últimos dias, e famílias foram retiradas duas vezes de casa, segundo funcionários da prefeitura.

Estabelecidos às margens do rio, os luizenses confiam na própria história de recuperação de tragédias e esperam retomar o Carnaval, famoso por celebrar a história local em marchinhas.