Advogado de suspeito de chacina em MT adota perfil midiático e de ostentação

Por PABLO RODRIGO

CUIABÁ, MT (FOLHAPRESS) - O polêmico advogado criminalista Marcos Vinícius Borges assumiu a defesa de um dos autores da chacina que deixou sete mortos relacionada a uma aposta de jogo sinuca em Sinop, em Mato Grosso.

Logo que assumiu o caso, Borges manteve o seu perfil de ostentador e midiático nas redes sociais. Ele divulgou sua primeira entrevista no caso a uma emissora local de televisão.

Outra advogada que estava com ele na hora da prisão de Edgar Ricardo de Oliveira, 30, Iedy Silva Cotrim Smiderle divulgou nas redes sociais o advogado acompanhando a equipe da Polícia Civil para localizar a caminhonete com as armas do crime. No carro de Borges estava uma equipe de televisão.

Ela também divulgou o momento da prisão, bem como a chegada de Edgar à delegacia.

"Eu e o doutor Vinicius estamos aqui na delegacia para garantir que o Edgar fosse preso com a sua integridade física garantida", diz em uma das postagem.

A ostentação do advogado de Edgar vem gerando repercussão no estado e no meio da advocacia, já que em vários casos polêmicos que Borges assume, ele costuma divulgar suas conquistas, como a soltura de clientes ou absolvição.

Sua postura confronta o provimento 205/2021 da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que veda "em qualquer publicidade a ostentação de bens relativos ao exercício ou não da profissão, como uso de veículos, viagens, hospedagens e bens de consumo, bem como a menção à promessa de resultados ou a utilização de casos concretos para oferta de atuação profissional", diz trecho do parágrafo único do artigo 6º do regimento interno da OAB.

Nas redes sociais, Borges aparece sempre demonstrando possuir uma vida luxuosa, seja viajando ou dirigindo uma BMW, com relógios, anéis, correntes de ouro e charutos.

Procurado pela reportagem, o advogado ironizou as críticas afirmando que o carro que ele usa é financiado e que o envelopou para "não mostrar as emendas que existe nele de quando ele foi desmontado", disse.

"Já os anéis, são bijuterias de ótima qualidade, o que eu uso no indicador é ótimo, demora pelo menos 3 meses para descascar se usar certinho tirando para tomar banho", completou.

Ele ainda afirma que usa as suas redes sociais como instrumento de trabalho, já que faz publicidade para empresas e marcas.

"Não me vejo quebrando qualquer norma da OAB, uma vez que falam de ostentar. Não vi nenhum capítulo no ordenamento que pune o dublê de rico", contesta.

Borges diz que apenas compartilha o que a imprensa mostra quando seus clientes são absolvidos e que não tem lógica esconder isso dos seus seguidores.

"Acredito que a população em geral não se ofende com isso, muito menos advogados renomados, mas entendo que essas repercussões atingem alguns, dessa maneira oriento que contratem estagiários e entrem com ação contra a Globo, Record, Band, SBT, RedeTV!, pedindo uma liminar para que retirem da televisão os êxitos do advogado", finalizou.

O presidente do Tribunal de Ética da OAB de Mato Grosso, Jorge Jaudy, evitou comentar o caso. Contudo, lembrou do regramento da Ordem sobre tal tipo de comportamento.

"Não posso me manifestar sobre o caso citado por vocês. Mas a OAB proíbe conduta de ostentação, seja divulgando o resultado do trabalho, ou divulgando seus rendimentos, e qualquer coisa que possa caracterizar alguma influência na captação de clientes", disse Jaudy.

Marcos Vinicius Borges também já foi denunciado pelo Ministério Público de Mato Grosso, sob acusação de ter se aproveitado de três clientes em Sinop.

Em um dos casos, ele teria cobrado R$ 3.000 de um cliente que foi preso em blitz da Lei Seca. Segundo a denúncia, ele alegou que parte do valor cobrado seria repassado aos policiais que estavam no caso para facilitar a soltura do cliente. O caso foi arquivado por falta de provas.

Marcos Vinicius também já foi acusado de ameaça e de comunicação falsa de crime, caso ainda em andamento

Na época, o advogado negou as acusações e disse que nunca se apropriou de dinheiro dos seus clientes.

Em relação ao seu cliente, o advogado afirma que o caso será definido no Tribunal do Júri.

"Ele se entregou como havíamos dito. Ele demonstra bastante arrependimento e disse que não tinha a intenção de matar a criança. [Disse] Que fez isso sem pensar", disse o advogado.

O CRIME

A chacina ocorreu na tarde da última terça-feira (21), quando as câmeras de segurança do Snooker Bar flagraram toda ação, que durou cerca de 15 segundos.

A suspeita é que o crime tenha sido premeditado, já que Edgar de Oliveira e o comparsa, Ezequias Souza Ribeiro, teriam procurado uma das vítimas para jogar uma revanche em outro bar. A dupla havia perdido uma primeira aposta no dia anterior.

"Então, pela manhã, eles foram no bar e jogaram novamente para tentar reaver o dinheiro perdido do dia anterior. No entanto, perderam mais uma vez, cerca de R$ 4.000. E à tarde eles retornaram ao bar já armados e atiraram contra todos os presentes. Duas pessoas sobreviveram por milagre, já que a munição acabou", relata o delegado Bráulio Junqueira, responsável pelas investigações.

Enquanto Ezequias rendeu a todos com uma pistola e os levou para a parede, Edgar foi até a caminhonete buscar espingarda de calibre 12 e fez os disparos. Uma vítimas era Larissa Frazão de Almeida, 12, baleada pelas costas quando tentava correr para fora do bar.

Edgar e Ezequias descarregaram as armas contra todos, inclusive em vítimas que já estavam caídas no chão, segundo mostram as imagens.