Foliões dizem ter sido agredidos com cassetetes por guardas da GCM no Carnaval de SP

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Representantes de blocos de Carnaval que desfilaram na região central de São Paulo pretendem buscar ajuda da Defensoria Pública contra supostas agressões de guardas-civis municipais e de policiais militares no último fim de semana prolongado.

Segundo Marco Ribeiro, coordenador do Bloco do Fuá, que desfilou na tarde de domingo (19) pelas ruas do Bexiga, cinco homens foram agredidos, sendo que quatro deles na cabeça, além de duas mulheres.

No cortejo do bloco Charanga do França, que saiu na segunda (20) pelo bairro de Santa Cecília, um homem teria foi agredido com golpes de cassete por um GCM. Outro agente teria usado spray de pimenta contra um folião que questionava o motivo da truculência, segundo a organização do bloco.

Em nota, o Bloco do Fuá afirma que o desfile começou atrasado, às 17h, por causa da chuva, e que foliões e músicos pararam para hidratação e uso do único local com banheiro químico na esquina entre as ruas Manoel Dutra e Rui Barbosa. Na sequência, diz o texto, um oficial da PM afirmou que o cortejo não poderia continuar até o fim, pois não daria tempo de terminar no horário marcado, às 19h. Após negociações, a festa teria sido liberada até as 19h15, quando o som foi desligado.

O problema, segundo vítimas ouvidas pela reportagem, foi na dispersão das pessoas do bloco que continuavam na rua Rui Barbosa, onde havia muita gente ainda.

"Não houve confronto. Depois de o caminhão de som ter ido embora, estritamente no horário, a PM veio pela frente batendo nos foliões, e a GCM por trás, numa ação orquestrada de encurralar e para machucar muito, pois bateram na cabeça das pessoas, que levaram de 8 a 13 pontos", afirma o bloco, na nota.

Uma arquiteta e atriz de 28 anos afirma que estava no canteiro central e, ao ver uma correria, saiu para a direção oposta, quando então teria levado "uma voadora no peito" de um policial com colete cinza. Ela não sabe dizer se o agente era policial militar ou guarda-civil -o colete das duas corporações é da mesma cor.

A jovem diz que pensa em registrar um boletim de ocorrência. Ela conta que, após a agressão, caiu no asfalto e esfolou a coxa e as mãos. Foi levada por amigos para a rua 23 de Maio, paralela à Rui Barbosa, onde encontrou um designer de 35 anos com muito sangue na testa por causa de um corte.

À reportagem, o folião diz que já estava indo embora, quando deixou seu celular cair e voltou, dançando para pegar o aparelho. Nesse momento, segundo ele, foi ameaçado por um guarda-civil -ele diz acreditar ter cometido o erro de segurar o cassetete do GCM, o que teria enfurecido o agente e outros que estavam ali.

O designer conta que levou chutes e um golpe na cabeça com aquele mesmo cassetete. Mais tarde foi para o hospital e precisou de oito pontos na testa.

Na tarde seguinte, Thiago França, do bloco Charanga do França, que arrastou milhares de foliões na Santa Cecília, afirma que a truculência da GCM ocorreu mais de uma hora depois da dispersão, quando muita gente estava em bares da rua Canuto do Val.

"A Canuto do Val nem é trajeto do bloco", diz. "Na hora conversei com uma fiscal da prefeitura e ela disse que aquilo era a escolta da limpeza. Havia guarda com arma na mão na frente do caminhão, nunca vi isso em dez anos de Carnaval de rua."

França conta que um casal foi perguntar a um guarda-civil o motivo daquela operação toda, quando o homem foi agredido com golpe de cassetete. Vídeos que circulam pela internet mostram a ação. Na sequência, um GCM disparou spray de pimenta contra outro folião, de acordo com o organizador do bloco.

"A prefeitura tem se portado muito combativa com os blocos, sem diálogo", afirma França.

Ao UOL, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que repudia a agressão do GCM contra o folião em Santa Cecília e que o guarda foi identificado. Disse, ainda, que o caso foi levado para a Corregedoria da corporação.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana diz que Comando Geral da GCM afastou preventivamente das atividades operacionais os servidores envolvidos nas ocorrências, conforme apuração preliminar.

"Atos isolados não representam o excelente trabalho que a Guarda realizou para garantir a proteção dos foliões durante as centenas de blocos de rua espalhados por todas as regiões da capital", afirma a pasta.

Em nota, a Policia Militar diz que, após o término da apresentação do Bloco do Fuá na rua Rui Barbosa, houve tumulto devido à aglomeração e algumas pessoas jogaram garrafas e latas contra os PMs. A corporação diz ainda que um dos policiais acabou ferido na cabeça e precisou de socorro médico.

"Foi necessária a ação policial para retomada da quebra da ordem pública, com o apoio da Guarda Civil Metropolitana. Não foi reportado à Polícia Militar nenhum caso de pessoas feridas relacionadas ao fato", diz trecho da nota.

O Arrastão dos Blocos, coletivo que reúne grupos do Carnaval paulistano, planeja reunir foliões na sede da Defensoria Pública, na próxima segunda (27), para avaliar possíveis medidas contra os casos de agressão pelos GCMs. O coletivo também pretende solicitar uma reunião com a Corregedoria da Polícia Militar.