Oito edifícios ocupados correm risco de desabamento em São Paulo

Por VICENTE VILARDAGA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em fevereiro deste ano, a remoção do entulho começou e caminhões trabalham em torno do terreno onde o edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandu, pegou fogo e desabou há cinco anos, deixando sete mortos e dois desaparecidos. O episódio sinalizou a falta de segurança em ocupações do centro paulistano.

Ali, a prefeitura pretende erguer um novo prédio com 105 apartamentos, que será ocupado por famílias que vivem nas ruas. O secretário municipal da Habitação, João Farias, diz que as obras começam em março.

"O projeto executivo já está pronto e estou abrindo a licitação para contratar a construtora que vai fazer o edifício", afirma Farias. "No caso do Wilton Paes vamos conseguir manter o gabarito antigo dele, que é de 14 andares."

Antes da remoção dos escombros, foi feito um estudo arqueológico no terreno porque se suspeitava de que ainda houvesse cadáveres no local. O trabalho revelou restos mortais de um cachorro.

O modelo que se pretende adotar no novo edifício é semelhante ao que vigora no edifício Mario de Andrade, na rua Asdrúbal do Nascimento, na Bela Vista, região central, que passou por um retrofit em 2018.

Está sendo feita ali uma experiência de locação social para abrigar famílias com renda inferior a três salários mínimos que trabalham na região central com acompanhamento da Secretaria Municipal de Assistência Social e do departamento social da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo).

Depois do desabamento do Wilton Paes de Almeida, a maioria das ocupações da região central expôs vulnerabilidades e deu um salto de segurança e de organização interna com a criação de brigadas de incêndio, instalação de hidrantes e extintores e um maior apoio de voluntários, que levam conhecimento técnico para os moradores.

A Secretaria Municipal de Habitação criou um grupo de ação permanente com um plano de trabalho de longo prazo para mitigar os riscos e garantir mais proteção aos moradores.

Atualmente, a prefeitura monitora 49 edifícios ocupados no centro. Eram 51, identificados na época da tragédia, mas dois foram desocupados: um na r. do Carmo, Sé, apelidado de Caveirão; e outro na r. Alexandrino da Silveira Bueno, no Cambuci.

É provável que o número de ocupações seja maior do que revela o mapeamento oficial por causa de ações mais recentes dos sem-teto.

As ocupações que oferecem mais risco para a segurança de seus moradores ficam nestes pontos: r. Harry Dannemberg, 698; r. da Independência, 384, Cambuci; av. Vila Ema, 453, Vila Prudente; av. São João, 104, centro; av. São João, 112/114, centro; al. Nothmann, 915, Campos Elíseos; av. Celso Garcia, 804, Brás; e r. Barão de Jaguara, Cambuci.

"Essas oito ocupações precisariam de uma desocupação imediata porque estão com as estruturas condenadas", diz o secretário. "Comunicamos as famílias, o Ministério Público e sugerimos aos moradores que deixassem os prédios porque há um risco iminente."

Segundo Farias, a iniciativa não teve êxito, as pessoas demonstram muita resistência em deixar os imóveis e não há amparo legal para tirá-las de suas moradias.

"Uma parte significativa desses prédios do centro é ocupada por movimentos organizados e nesses a gente tem facilidade de diálogo e de controle", afirma Farias. "Mas algumas são mais fechadas, inclusive com suspeita de participação de facções criminosas, e nessas há muita dificuldade de entrar."