Prédios de Moema, onde idosa morreu na chuva, usam comportas contra enchentes
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os prédios do bairro de Moema, área nobre da zona sul de São Paulo, contam com sistemas de bombas e diversas comportas para lidar com os frequentes alagamentos causados pelas chuvas. Eles pedem que a Prefeitura de São Paulo aponte uma solução definitiva para a questão.
Nesta quarta (8), uma mulher de 88 anos morreu dentro do carro que ela dirigia na rua Gaivota, após ser surpreendida por um alagamento gerado após uma forte chuva. A água ultrapassou dois metros de altura.
Trabalhadores e moradores da rua dizem que os alagamentos são constantes e que a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não aponta solução. Procurada pela reportagem, a prefeitura não se manifestou até a publicação.
Em um prédio residencial, foram instaladas diversas comportas, mas os dispositivos não deram conta da força da água.
"Tem comporta na entrada das duas garagens e outra na portaria, mais ainda assim a água entrou e invadiu o elevador. Só para remover a água do elevador vão mais de R$ 1.000", disse a arquiteta Marilene Gonzales, 59, que mora no edifício há 26 anos.
De acordo com a arquiteta, a força da água danificou ainda mais o portão e a calçada, que tem infiltração. Segundo ela, apenas o conserto da calçada deve custar mais de R$ 30 mil.
A manhã desta quinta (9) foi dedicada à limpeza e a contabilização dos prejuízos.
"Eu trabalho aqui sozinha, mas tiveram de chamar outra pessoa para me ajudar porque não dou conta de limpar toda a sujeira sozinha hoje. A água subiu demais e invadiu tudo aqui no prédio", disse Zélia Santos, 56, auxiliar de limpeza.
A arquiteta cobra ações para a região. "Morreu uma pessoa aqui na frente ontem, mas o prefeito não esteve aqui. A prefeitura não nos procurou. O prédio tem um monte de comportas que já não estão dando conta. A gente vai ter de fazer o quê? Colocar mais comportas? Todos os prédios aqui já têm", diz Gonzales.
Ela reclama de que não há avisos sobre os problemas no bairro nem informações sobre como agir. "Tem como criar uma força-tarefa de alagamentos? Tem como instalar uma cancela no alto da rua e quando alagar já fechar para ninguém passar?", questiona a moradora.
A porteira Neide Leal trabalha e mora no edifício há 25 anos e conta que sempre salva as pessoas de dentro dos carros."Eu fico gritando para não passarem, alguns ouvem, outros se arriscam. Eu perdi as contas de quantas pessoas eu já salvei. Eu amarro uma corda no portão e salvo as pessoas presas dentro dos carros nos alagamentos", contou.
O prédio ao lado sofreu ainda mais com a chuva desta quarta. A água invadiu as garagens subterrâneas e alagou cerca de 20 veículos, de acordo com a apuração da reportagem.
Nenhum responsável quis gravar entrevista, mas a reportagem apurou que o edifício tem um sistema de bomba que tira a água do lençol freático que corre por baixo do prédio. Além disso, um sistema de mangueira estava sendo usado para remover a água da chuva que invadiu a garagem. Muita água saía de dentro do edifício residencial.
Segundo funcionários, que não se identificaram por medo de represália, os prejuízos com alagamentos são constantes. De acordo com um deles, as garagens estavam um caos e tomadas pela água. Alguns dos carros não podiam ser acessados pelos guinchos das seguradoras e era buscada uma alternativa para a remoção dos veículos.
Durante toda a manhã, o movimento de guinchos de diversas seguradoras, era intenso na rua Gaivota. A maioria deles estava lá para remover ou tentar fazer funcionar os carros de moradores desse prédio atingidos pela água.
A médica psiquiatra Thereza Paturi, 29, mora no prédio há um ano e é uma das que tiveram o carro alagado na garagem.
"Já vi vários alagamentos aqui. Mas esse foi o pior. O prédio tem três subsolos. O meu carro tava no segundo. A água tomou conta dele todo", contou, enquanto aguardava a chegada da seguradora.
"Eu quero que a prefeitura seja mais solidária com os moradores, que torne a cidade mais sustentável para que as pessoas convivam de forma mais harmônica", falou.