USP, Unicamp e Unesp querem vestibular seriado para alunos de SP

Por ISABELA PALHARES

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - As três universidades estaduais paulistas querem transformar o Saresp (prova que avalia a qualidade do ensino da rede estadual de São Paulo) em um vestibular seriado. Assim, os estudantes serão avaliados ao fim de cada série do ensino médio e a nota, ao fim dos três anos, será usada para ingresso nos cursos de graduação.

Elas buscam transformar o Saresp em um modelo próximo ao vestibular americano, o SAT (Scholastic Aptitude Test), em que os alunos fazem as provas várias vezes durante a etapa similar ao ensino médio brasileiro. O processo seletivo para ingresso nas universidades nesse formato só poderá ser feito por alunos de escolas da rede estadual paulista.

A proposta já foi feita ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e as universidades querem iniciar o modelo ainda neste ano. Segundo Carlos Gilberto Carlotti, reitor da USP, a gestão estadual já sinalizou entusiasmo com a proposta.

Atualmente, o Saresp é aplicado apenas no 5º e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio. Uma das críticas ao modelo atual da prova é que os alunos têm pouco estímulo para fazê-la, já que os resultados servem apenas para avaliar a qualidade do ensino das unidades escolares -as notas também definem o valor para o pagamento de bônus aos professores.

Para transformá-lo em vestibular seriado, as provas seriam aplicadas também no 1º e 2º ano dessa etapa final. Ao fim dos três anos, será calculada uma nota final e os estudantes poderão concorrer às vagas de graduação na USP, Unicamp e Unesp.

"São várias vantagens nesse modelo. A principal é poder identificar desde o 1º ano do ensino médio um aluno com potencial para entrar na universidade e assim acompanhá-lo, oferecer atividades complementares para que ele consiga ser aprovado e chegar melhor preparado na graduação", disse Carlotti.

A proposta do novo modelo de seleção para as universidades paulistas foi apresentada na manhã desta sexta-feira (10) no campus da USP em Ribeirão Preto, onde foi lançada a Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, que terá como titular a professora Maria Helena Guimarães de Castro.

A USP pretende reservar cerca de 10% de suas vagas de graduação para a seleção pelo vestibular seriado. Das cerca de 11 mil vagas, 1.500 seriam destinadas para esse modelo. A mesma proporção deve ser seguida pela Unicamp e Unesp.

Apesar de querem implementar o modelo já neste ano, as universidades precisam aprovar o novo processo seletivo em instâncias internas, como os Conselhos de Graduação e os Conselhos Universitários (instâncias máximas das instituições).

"Elaboramos em conjunto esse modelo e queremos implementá-lo ao mesmo tempo nas três. O Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo] está empenhado em fazer isso acontecer de forma conjunta", disse o reitor da USP.

Segundo Carlotti, ao transformar o Saresp em processo seletivo, as três universidades vão se aproximar mais do ensino público e assim poderão colaborar de forma mais efetiva com a melhoria da qualidade da educação básica.

"Ao participar dessa avaliação, vamos ter condições de identificar o que está indo bem ou não no ensino público e colaborar com a nossa presença dentro do ensino médio. O estado de São Paulo tem 3 universidades de ponta, do Brasil e do mundo, e podemos colaborar muito mais com a educação básica do que fazemos hoje", disse.

O reitor lembrou que, apesar de ser o estado mais rico do país, São Paulo não tem conseguido melhorar os níveis de aprendizado nas escolas estaduais. Dados do Saresp de 2021 mostram que 96,6% dos alunos terminaram a escola sem ter aprendido sequer como resolver uma equação de primeiro grau.

No Saeb (avaliação federal da educação básica), os resultados mostram que só 7% dos alunos de escolas estaduais paulistas terminam o ensino médio com aprendizado considerado adequado em matemática -percentual que é maior no Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Sul e Ceará.

"Estamos no estado com a melhor economia, com as melhores condições. Seria natural que a gente buscasse a melhor qualidade de ensino para os nossos alunos e as três universidades paulistas podem contribuir mais."

Com o modelo de vestibular seriado, as universidades esperam aumentar o estímulo para os estudantes tentarem ingressar no ensino superior. A rede estadual paulista tem cerca de 400 mil alunos no ensino médio, mas menos de 10% se inscrevem para fazer a Fuvest (prova que dá acesso às vagas na USP).

"A proporção de alunos que terminam o ensino público e acham que têm condições de entrar na universidade é muito pequena e isso é muito ruim. Com esse modelo, vamos ter os 400 mil alunos com a possibilidade de entrar. Acho que esse é um estímulo importante, podemos criar um caminho real de acesso às universidades", disse Carlotti.

Em 2008, com o objetivo de aumentar a participação da rede pública no vestibular, a USP criou um sistema de bonificação conforme o desempenho dos alunos ao longo do ensino médio. A medida, no entanto, teve pouco efeito em incentivar os estudantes.

O vestibular seriado já é usado em outras instituições do país, como a UnB (Universidade de Brasília) e a UPE (Universidade Estadual de Pernambuco). Nesses casos, houve aumento do ingresso de alunos da rede estadual nos cursos de graduação.

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