Metrô de SP aceitou liberar catraca em dia de greve mesmo sem garantia de segurança
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de ter permitido a abertura das catracas (entrada gratuita) nas linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha, o diretor de operação do Metrô, Milton Gioia, admite que não havia efetivo suficiente para garantir a segurança dos milhões de usuários caso a medida fosse implementada nesta quinta (23), dia de greve dos metroviários.
Segundo ele, a decisão de romper com a cobrança de passagens partiu da empresa, sem qualquer participação do Governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). Como forma de mitigar os riscos da superlotação e ao mesmo tempo a falta de funcionários, Gioia disse que a direção do Metrô pediu colaboração da Polícia Militar.
"A carta foi assinada e enviada pelo Metrô, foi uma decisão da diretoria em função do serviço que não estava sendo prestado. A nossa prioridade sempre será o passageiro. Emitimos [a carta] porque ficamos preocupados com a cidade em greve", afirmou Gioia à reportagem.
O diretor estima que, com a divisão dos funcionários em três turnos de trabalho, teria um contingente de 700 a 800 profissionais para os serviços de operação e sistema de monitoramento e segurança --um quadro insuficiente, segundo ele.
"Recebemos 3 milhões de passageiros em dia útil. Quando não tenho esse controle de passageiros [com abertura das catracas], perco a garantia de segurança da operação", afirma Gioia.
Questionado sobre o impacto financeiro com a gratuidade das viagens, ele disse apenas que o "faturamento é importante", mas voltou a ressaltar o foco com a segurança.
A reportagem apurou que Tarcísio, a princípio, foi favorável à abertura das catracas na primeira greve da sua gestão. O governador, no entanto, teria sido orientado pela diretoria da companhia a recuar.
A reportagem perguntou à Secretaria de Comunicação se a gestão Tarcísio concordou com a abertura das catracas ciente de iminente risco, quais os planos para reforçar a segurança nas estações e se o governo fará algum aporte financeiro para o Metrô atender aos pedidos dos funcionários.
Sem responder especificamente a esses pontos, a assessoria afirmou as declarações de diretor representavam a versão do governo.
A liberação das catracas chegou a ser anunciada pela gestão do governador pelo Twitter e em nota à imprensa, na manhã desta quinta-feira (23).
"O Metrô comunicou ao Sindicato dos Metroviários a liberação do funcionamento do sistema nesta quinta-feira (23) com liberação total das catracas de forma a não prejudicar ainda mais a população que depende do transporte", dizia o tuíte do Governo de SP e compartilhado por Tarcísio, às 9h24.
Horas depois, o Metrô obteve um mandado de segurança no qual determinava o funcionamento de 80% do serviço do metrô nos horários de pico (entre 6h e 10h e entre 16h e 20h) e com 60% nos demais horários, durante todo o período de paralisação, com cobrança de tarifa.
Camila Lisboa, do sindicato, disse que Tarcísio e o presidente do Metrô em exercício, Paulo Menezes Figueiredo, agiu de má-fé depois de se comprometer em abrir as catracas desde que 100% do quadro de funcionários retomassem os trabalhos.
"A carta veio da direção do Metrô, subordinado ao governo de São Paulo. Quando o Metrô nega o pedido de reajuste diz que não tem autorização do governo. O Metrô não autorizaria catraca livre sem autorização do estado, e isso eu ouvi da presidência", afirma.
Lisboa diz que a carta foi enviada por volta das 8h. Já Gioia afirma que o Metrô ingressou com o pedido de mandado de segurança às 7h15 desta quinta. "O Metrô, como empresa pública e qualquer cidadão, tem o direito de ir à Justiça", falou o diretor.
A decisão favorável ao Metrô na qual a reportagem teve acesso fora assinada eletronicamente às 10h15, pelo desembargador Ricardo Apostólico Silva.
"Às 9h24, o governador tuitou que vai liberar o metrô, e às 12h30 não tínhamos autorização do Metrô para o operacional começar. O governador Tarcísio mentiu para a população, para imprensa e para os funcionários, porque ao mesmo tempo em que dizia que teria catraca livre fez um pedido na Justiça", afirmou Lisboa.
Gioia rebate e disse que, no momento em que os funcionários foram informados da decisão que obrigada o funcionamento com 80% nos horários de picos, o sindicato mandou o quadro voltar.
"O sindicato deixou o trem no meio da via, o pessoal do turno da tarde não entrou na estação, teve pessoal da segurança que bateu cartão e foi embora. Saíram desobedecendo a decisão jurídica", afirma o diretor de operações.
PRIMEIRA CRISE DA GESTAO TARCÍSIO
A greve e a guerra de narrativa entre funcionários e diretoria do Metrô fizeram desta quinta o dia mais difícil da gestão Tarcísio, iniciada em janeiro deste ano. O governador foi criticado pelos deputados da oposição como Antonio Donato (PT) e Guilherme Cortez (Psol).
"Ele [Tarcísio] blefou, não liberou as catracas para a população. Deixou a população na fila, causou uma grande confusão no intuito de voltar a população contra os metroviários", disse Cortez em pronunciamento na Assembleia Legislativa de São Paulo.