Falha humana provocou choque de trens do monotrilho, diz Metrô à Promotoria
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O acidente entre dois trens da linha 15-prata, o monotrilho da zona leste de São Paulo, no último dia 8 de março, foi provocado por falha humana. A explicação foi dada pelo Metrô ao Ministério Público na semana passada, de acordo com a Promotoria.
Segundo o Ministério Público, três funcionários teriam falhado, um do centro de controle da linha, o operador de um trem que entrou na contramão e o da outra composição, que estaria olhando para outro lado, sem atenção.
O promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que investiga a sequência de problemas e acidentes no monotrilho desde 2020, aguarda uma explicação formal sobre o acidente. "Preciso para inclusão nos autos", diz.
Em nota à reportagem, o Metrô afirmou que o processo de responsabilizações pelas causas do acidente segue em andamento.
A batida aconteceu por volta das 4h30, durante o posicionamento dos trens ao longo da linha. A informação oficial é que as duas composições se chocaram entre as estações Sapopemba e Jardim Planalto, na zona leste.
Os trens bateram sobre a avenida Sapopemba, que precisou ser interditada para evitar que peças caíssem na via. A operação da linha só foi retomada, e parcialmente, 13 horas depois.
Segundo disse na época Antônio Barros, gerente de operações do Metrô, a colisão frontal ocorreu no momento em que o carrossel de trens era preparado para distribuir os veículos na via, antes do início da operação.
A investigação do Ministério Público busca entender como três pessoas falharam ao mesmo tempo em um sistema automatizado que poderia dispensar condutor.
Toda a linha, que liga a Vila Prudente a São Mateus, é operada pelo sistema CTBC (Controle de Trens Baseado em Comunicação). A tecnologia se baseia em ondas de rádio. Estas permitem a comunicação contínua entre os trens e um computador central, que conduz a aceleração e a frenagem, dispensando a necessidade humana nas composições.
OUTROS PROBLEMAS
Na segunda-feira (3), a Promotoria informou ao consórcio CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste), responsável pela construção da linha e pelos trens, que irá pedir indenização por danos coletivos e ao patrimônio público provocados por falhas estruturais na linha 15.
A reunião de segunda ocorreu dias após a entrega de um relatório produzido pelo Núcleo de Engenharia do CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução), do Ministério Público, que apontou irregularidades em reparos feitos em vigas da linha 15-prata.
O documento, de 41 páginas, foi elaborado a pedido do Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital para investigar a queda do bloco de concreto, da altura de 15 metros, no trecho da ciclovia da avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Mello, entre as estações Oratório e Parque São Lucas.
Um relatório anterior produzido pelo Caex sobre o monotrilho, em outubro de 2021, já havia apontado falha de projeto na construção da linha, assim como na fabricação e montagem dos trens.
Apesar de dizer que não há riscos na linha, o documento entregue na semana passada apontou problemas no material usado nos reparos.
Parte do parecer foi contestado pelo consórcio, segundo o Ministério Público, e não se chegou a um acordo ainda.
O CEML foi procurado por telefone e por email e não respondeu aos questionamentos da reportagem.
A negociação não dispensa a cobrança de indenização, cujo valor vai ser definido após o Metrô concluir um levantamento de prejuízos que podem ser cobrados. O documento deverá ficar pronto.
Entre os ressarcimentos por causa de paralisações da linha provocadas por problemas estruturais e dos trens estarão gastos com sistema Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência), para deslocamento de passageiros afetados em ônibus contratados, e prejuízos com bilheterias fechadas.
A indenização deve ser requerida tanto pelo Ministério Público quanto pelo Metrô.
A Promotoria também vai pedir um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para correção de problemas apontados tanto pelo Ministério Público quanto pelo Metrô. O inquérito deverá ficar pronto em cerca de 60 dias.