Veja o que se sabe sobre ataque a creche em Blumenau, SC, que completa 1 semana

Por CATARINA SCORTECCI

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Uma semana após a morte de quatro crianças em uma escola infantil de Blumenau (SC), investigadores apontam que o autor dos crimes agiu sozinho e escolheu o centro educacional Cantinho Bom Pastor de forma aleatória.

Mas a Polícia Civil não sabe dizer o que teria levado o homem, de 25 anos, a matar as crianças -na versão apresentada aos investigadores, ele alega que obedecia a ordens de um outro homem, que o ameaçava.

Mas a hipótese de participação de uma segunda pessoa no crime já foi descartada pela polícia, que estuda a possibilidade de pedir um exame de sanidade mental do agressor. Ele já tinha quatro passagens pela polícia.

Veja o que se sabe a seguir.

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COMO OCORREU O ATAQUE?

O ataque à escola aconteceu pouco antes das 9h de quarta-feira (5). Luiz Henrique de Lima, 25, chegou de moto, pulou o muro e caiu no parquinho da escola, onde 25 crianças estavam reunidas para uma roda de conversa sobre a Páscoa.

Professoras que cuidavam de crianças em outros ambientes da escola pensaram num primeiro momento que se tratava de um assaltante do posto de combustível vizinho e correram para fechar janelas e portas. Só depois se deram conta da dimensão do ataque.

O autor atingiu quatro crianças, que não resistiram e morreram ainda no pátio. Outras quatro ficaram feridas com os golpes de machadinha, mas conseguiram ser levadas para o Hospital Santo Antônio e voltaram para suas casas no dia seguinte.

COMO O AUTOR FOI PRESO?

Funcionárias da escola relatam que a ação do homem foi extremamente rápida e que estava claro que o foco dele eram as crianças -ele fugiu quando teria percebido que elas estavam conseguindo frear o avanço dele contra os alunos, segundo os relatos.

Ao sair da escola, o homem logo se apresentou a um batalhão da PM próximo e foi preso.

QUEM ERAM AS VÍTIMAS?

As quatro crianças que perderam a vida eram Bernardo Cunha Machado, 5, Bernardo Pabst da Cunha, 4, Enzo Barbosa, 4, e Larissa Maia Toldo, 7. Tinham em comum o fato de serem filhos únicos e de terem sido todos "muito desejados pelos pais", relatam pessoas próximas.

O QUE APONTA A INVESTIGAÇÃO?

Horas depois do ataque, a polícia descartou a hipótese de o homem ter praticado o crime sob influência de jogos de internet -a versão chegou a circular em grupos de mensagens e era repetida por moradores que depois foram até a escola prestar solidariedade.

"É um fato isolado, sem relação com outras práticas criminosas. Não foi um ato coordenado por jogo ou redes sociais", afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de SC, Ulisses Gabriel.

O inquérito policial deve ser concluído na sexta-feira (14). Para fazer a investigação, a polícia obteve autorização para quebrar o sigilo telefônico e telemático do homem.

A perícia no celular foi concluída na segunda-feira (10), com a análise de mais de 7.000 áudios de WhatsApp. A partir daí, a polícia concluiu que ele teria agido sozinho e de forma aleatória -para os investigadores, ele poderia ter entrado em qualquer outra escola.

A polícia ainda não divulgou o resultado do exame toxicológico, que revelaria se o homem estava ou não sob efeito de algum tipo de droga.

Imagens de câmera de segurança, inclusive de equipamentos instalados na escola, também farão parte do inquérito. Mas, de acordo com o delegado Ulisses Gabriel, elas não revelam elementos adicionais ou divergentes das narrativas já feitas pelos envolvidos.

POR QUAIS CRIMES O AUTOR DEVE RESPONDER?

Segundo o delegado, o autor do ataque deve ser indiciado no inquérito por quatro homicídios quadruplamente qualificados (por motivo fútil, emprego de meio cruel, sem possibilidade de defesa e contra menor de 14 anos) e também por quatro tentativas de homicídio, com as mesmas qualificadoras, por causa das crianças que ficaram feridas.

A partir da conclusão do inquérito, o Ministério Público tem até cinco dias para oferecer a denúncia à Justiça. O processo deve tramitar na 2ª Vara Criminal de Blumenau e sob sigilo, por se tratar de um caso envolvendo vítimas menores de idade.

O criminoso está preso na Penitenciária Regional de Blumenau. A reportagem entrou em contato com a Defensoria Pública de SC, que acompanhou o homem em sua audiência de custódia, na quinta-feira (6), mas ainda não teve retorno.

QUAL É A SITUAÇÃO DA CRECHE ATACADA?

As atividades na Cantinho Bom Pastor devem ser retomadas na segunda-feira (17), com ajuda de psicólogos e segurança reforçada. A direção da escola também deve alterar o espaço, com uma nova pintura e mudanças no parquinho.

A escola infantil é particular e existe há quase 15 anos no bairro Velha. O espaço funciona como berçário, pré-escola e também contraturno para crianças de até 12 anos. Hoje são mais de 200 alunos matriculados e quase 30 funcionários. Pais relatam um ambiente acolhedor e professoras carinhosas.

A diretora do lugar é uma professora da rede pública aposentada, Alconides Ferreira de Sena, de 66 anos. "Eu respiro educação. Nunca pensei que a minha trajetória profissional fosse ter uma parte tão doída", disse ela, na primeira entrevista que concedeu à imprensa, na tarde de sábado (8). Seu bisneto está entre os estudantes da creche. "Nós somos uma família aqui", afirmou ela.

QUAIS FORAM AS MEDIDAS ANUNCIDAS PELAS AUTORIDADES LOCAIS?

Logo após o episódio, o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), suspendeu as aulas da rede municipal por uma semana, prometendo agilizar a contratação de seguranças.

Já o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), anunciou que colocará um segurança armado em cada escola da rede estadual dentro de 60 dias. Policiais aposentados devem ser chamados para tarefa.

QUAIS FORAM OS ATOS EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS?

Na noite de quarta, uma vigília começou a se formar em frente à escola. A todo momento, moradores passavam para deixar velas, flores, mensagens. Os corpos das quatro crianças começaram a ser velados ainda naquela noite. Foram sepultados no final da manhã de quinta-feira (6).

Na manhã de sexta (7), dezenas de motoboys foram às ruas em um ato com pedidos de paz. O ponto final dos motoristas foi a creche, onde fizeram um minuto de silêncio de mãos dadas e depois soltaram balões brancos.

Moradores também foram às ruas na tarde de sábado (8) para pedir punição ao autor dos crimes e leis mais rígidas.

Uma missa em homenagem às crianças foi realizada na Catedral São Paulo Apóstolo nesta segunda-feira (10). Elas também devem ganhar um memorial, em um local ainda a ser definido pela prefeitura de Blumenau.

SC