Pastores suspeitos de matar adolescente na Bahia vão a júri após 22 anos

Por JOÃO PEDRO PITOMBO

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Foi iniciado nesta terça-feira (25) o segundo julgamento dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Macedo, indiciados por participação no assassinato de Lucas Vargas Terra, adolescente que foi estuprado, morto e teve o corpo carbonizado há 22 anos em Salvador.

Eles foram denunciados pelo Ministério Público da Bahia pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe, com emprego de meio cruel e sem possibilitar a defesa da vítima, e também por crime de ocultação de cadáver.

Nestor Nerton Fernandes Tavora Neto e Nelson da Costa Barreto Neto, advogados dos réus, foram procurados pela Folha nesta terça-feira e informaram que não vão manifestar sobre o processo até o final do julgamento.

O Tribunal do Júri está sendo realizado no Fórum Ruy Barbosa, no centro da capital baiana, e deve seguir até a próxima sexta-feira (28). Ao todo, 15 testemunhas serão ouvidas neste período e sete jurados serão os responsáveis pelo veredito.

O primeiro julgamento foi realizado em novembro de 2013, quando os dois bispos foram inocentados. A família de Lucas Terra recorreu e, dois anos depois, o Tribunal de Justiça da Bahia decidiu que eles deveriam a júri popular.

Lucas Terra tinha 14 anos quando crime aconteceu, em março de 2001. Na época, as investigações apontaram que o estudante tinha sido visto pela última vez em um templo da Igreja Universal do Reino de Deus no bairro do Rio Vermelho, conversando com um pastor.

O adolescente teria sido abusado sexualmente após ter flagrado os então pastores Joel e Fernando tendo relações sexuais. Após o estupro, ele teria sido colocado em um caixa de madeira e queimado vivo em um terreno baldio na avenida Vasco da Gama com o auxílio do também pastor Sílvio Galiza.

Galiza foi o primeiro suspeito por participação no crime a ser identificado. Ele foi julgado em 2004 e condenado a 23 anos de prisão. Depois, a pena foi reduzida para 18 anos dos quais ele cumpriu 7 anos de regime fechado.

Já na prisão, em 2007, Galiza afirmou que os pastores Joel Miranda e Fernando Aparecido da Silva tiveram envolvimento no crime.

Fernando Aparecido da Silva chegou a ser preso em 2008 pela Polícia Civil de Pernambuco em uma operação em parceria com a polícia baiana. Meses depois, acabou sendo liberado para responder à acusação em liberdade.

Em nota, a Igreja Universal do Reino de Deus destacou o "comportamento irretocável" dos pastores e informou que "está completamente convicta" quanto à inocência de ambos.

"A Universal reforça que continua acreditando na Justiça brasileira, e tem a convicção de que será restabelecida a justa decisão à época da Juíza de 1ª instância, de não os levarem a júri popular, por absoluta ausência de provas contra os mesmos", informou.

Fernando Aparecido da Silva e Joel Macedo seguem atuando como pastores da Universal nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.