Promotoria dá 5 dias para grupo Carrefour mostrar imagens de caso de agressão na Bahia

Por PEDRO NASCIMENTO

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O Ministério Público da Bahia deu o prazo de cinco dias úteis para que o grupo Carrefour apresente imagens das câmeras de segurança do mercado onde um casal negro foi agredido há uma semana, em Salvador.

O requerimento integra o processo aberto na segunda-feira (8) pela Promotoria, que apura a ocorrência de crime de racismo no caso.

Procurado, o grupo Carrefour afirmou que está colaborando com as autoridades e que registrou um boletim de ocorrência eletrônico por lesão corporal contra os autores das agressões. "Entregamos as imagens das câmeras de segurança para a Polícia Civil para que o ocorrido seja investigado e os responsáveis, punidos. O mesmo será feito com o Ministério Público e outras autoridades", diz a empresa.

As cenas ocorreram no supermercado Big Bom Preço, que faz parte do grupo Carrefour, localizado no bairro de São Cristóvão. As vítimas, identificadas como Jeremias e Jamile, foram agredidas no último dia 5 após supostamente tentarem furtar sacos de leite em pó.

As agressões físicas e verbais, que aconteceram na área externa do mercado, foram gravadas e compartilhadas nas redes sociais. O vídeo mostra o casal encostado a uma parede sendo interrogado por homens -que não aparecem nas imagens- e levando tapas nos rostos. A gravação parece ter sido feita pelos próprios agressores.

Em um trecho da filmagem, Jamile mostra sacos de leite em pó em uma mochila e assume o furto, argumentando que era para alimentar a filha. Ainda no vídeo, o casal é coagido a falar os próprios nomes e os nomes de suas respectivas mães.

A investigação está a cargo da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos. O MP-BA deu o mesmo prazo de cinco dias para que o Carrefour preste esclarecimentos e informe as funções dos eventuais funcionários envolvidos.

A rede Carrefour afirma que os agressores não fazem parte do quadro de funcionários, nem de terceirizados. A empresa diz que, apesar dessa constatação, encerrou o contrato com a empresa de segurança.

Por meio da análise das imagens, o Ministério Público pretende identificar os autores das agressões.

O procedimento instaurado tem como objetivo apurar a ocorrência de racismo institucional no caso, de modo a averiguar a responsabilidade da empresa nos fatos.

O Ministério Público pode coletar provas essenciais para elucidar o caso, uma vez que a Polícia Militar informou não ter sido chamada para atender a ocorrência.

Walison dos Reis Pereira da Silva, advogado de Jeremias, afirma que seu cliente foi alvo de racismo, tortura e homofobia (devido aos insultos homofóbicos dirigidos a ele) e aponta, ainda, incitação ao crime de ódio nas redes sociais, em virtude do compartilhamento do conteúdo.

Segundo ele, o casal está sofrendo ameaças de morte, principalmente após a demissão da equipe de segurança do Big Bompreço de São Cristóvão. O advogado diz temer pela integridade do cliente e afirma que na próxima sexta (12) se reunirá com promotor e delegado para buscar meios de garantir a segurança do cliente. A defesa de Jamile não foi localizada.

Para o Ministério Público, a hipótese de as agressões terem sido cometidas por pessoas sem vínculo com o grupo Carrefour não afasta a possibilidade de responsabilização criminal individual quanto às pessoas que praticaram crimes contra o casal, direta ou indiretamente.