Casal agredido em loja do grupo Carrefour diz ter tentado furtar leite para alimentar a filha
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em depoimento na tarde desta quinta (11) à Polícia Civil, o casal negro agredido em um mercado do grupo Carrefour em Salvador afirmou ter tentado furtar quatro sacos de leite em pó para alimentar a filha de um ano.
As vítimas, identificadas como Jeremias e Jamile, disseram à polícia ter sido agredidas por seis seguranças. Segundo eles, as agressões começaram no estacionamento e depois continuaram no interior da loja, onde Jeremias foi agredido também com uma barra de ferro.
O caso ocorreu no último dia 5 no supermercado Big Bom Preço, do grupo Carrefour. Procurada novamente nesta quinta (11), a empresa voltou a dizer que está colaborando com as autoridades e que registrou um boletim de ocorrência eletrônico por lesão corporal contra os autores das agressões.
"Entregamos as imagens das câmeras de segurança para a Polícia Civil para que o ocorrido seja investigado e os responsáveis, punidos. O mesmo será feito com o Ministério Público e outras autoridades", disse o grupo Carrefour, em nota. Na quarta (10), a Promotoria deu cinco dias úteis para que a empresa entregue imagens das câmeras de segurança do local.
Segundo depoimento de Jeremias na 12ª Delegacia Territorial, em Itapuã, ele e a mulher foram abordados e cercados no estacionamento por seis seguranças, que encontraram os pacotes de leite em uma mochila.
Imediatamente, ainda segundo Jeremias, ele foi colocado no chão e recebeu de socos na cabeça, chutes na costela a arranhões no pescoço, além de golpes com uma barra de ferro. Ele ainda disse ter sido chamado de viado, preto e desgraça e que a esposa também foi atacada.
O casal contou que então foi levado para o interior da loja, onde agressões continuaram com mais socos, inclusive no rosto, e chutes na virilha.
O Ministério Público da Bahia abriu processo na segunda (8) para apurar a ocorrência de crime de racismo no caso. Por meio da análise das imagens solicitadas, a Promotoria quer identificar os autores da violência.
As agressões físicas e verbais que aconteceram na área externa do mercado foram gravadas e compartilhadas nas redes sociais. O vídeo mostra o casal encostado a uma parede sendo interrogado por homens -que não aparecem nas imagens- e levando tapas nos rostos. A gravação parece ter sido feita pelos próprios agressores.
Em um trecho da filmagem, Jamile mostra sacos de leite em pó em uma mochila e assume o furto, argumentando ser para alimentar a filha. Ainda no vídeo, o casal é coagido a falar os próprios nomes e os nomes de suas respectivas mães.
O grupo Carrefour já havia dito que ao menos um dos agressores não faz parte do quadro de funcionários, nem do de terceirizados. Afirmou, ainda, que encerrou o contrato com a empresa de segurança.
Walison dos Reis Pereira da Silva, advogado de Jeremias, afirma que seu cliente foi alvo de racismo, tortura e homofobia. Ele também apontou incitação ao crime de ódio nas redes sociais, em virtude do compartilhamento do conteúdo gravado.
Para o Ministério Público, a hipótese de as agressões terem sido cometidas por pessoas sem vínculo com o grupo Carrefour não afasta a possibilidade de responsabilização criminal individual quanto às pessoas que praticaram crimes contra o casal, direta ou indiretamente.