Facção ligada ao PCC transformou ilha na Bahia em bunker, diz PF

Por FABIO SERAPIÃO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal descobriu em uma investigação sobre um assalto a banco em Salvador que a principal facção ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no estado transformou uma ilha na baía de Todos-os-Santos em bunker do crime.

De acordo com documentos da operação Terra Livre, deflagrada neste mês, a facção baiana BDM (Bonde do Maluco) se instalou na Ilha de Maré e faz do lugar um ponto de logística de fornecimento, transporte, depósito e exportação dos carregamentos de armas e drogas.

A PF chegou ao grupo após iniciar investigação sobre o roubo de uma agência bancário na capital baiana, em março, em que foram utilizados explosivos e "um grande poder bélico".

Após o assalto, os investigadores estaduais e da PF mapearam o percurso dos envolvidos na fuga e descobriram que foram para a ilha, que é formada por ao menos 11 comunidades.

"Essa ilha é o lugar de refúgio de grandes traficantes do BDM. Por ser um local isolado, serve de um grande bunker, esconderijo, de drogas e armas, além de esconderijo após cometerem algum ato ilícito, ataques a instituições financeiras, ataques a facções rivais para expansão territorial do BDM, na cidade do Salvador", afirmou a PF na representação que pediu seis mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva contra integrantes da facção.

Segundo a PF, a Ilha de Maré se transformou no bunker do grupo criminoso pelo fato de ser acessível somente por meio marítimo e por que a pequena população local foi subjugada pela facção.

Nesse cenário, como o acompanhamento e vigilância das forças de segurança é dificultado, os integrantes do BDM têm a "sensação de impunidade imperando em suas mentes".

Dois dos alvos dos mandados de prisão cumpridos pelos agentes federais também são suspeitos da morte de um policial militar baiano em 2021.

De acordo com os investigadores, a facção é a maior atualmente em atuação no estado e seus integrantes estão envolvidos em assaltos a banco e tráfico de drogas.

"Oportuno consignar que, muito provavelmente, os indivíduos aqui identificados operacionalizaram diversos outros assaltos e tráfico de drogas, atuando com extrema violência não só nas ações criminosas envolvendo instituições financeiras, como, também, no tráfico de drogas", diz a PF.

Na Bahia, a facção é apontada como grupo violento e envolvido na disputa por território com outros criminosos. É aliada ao PCC e inimiga do Comando da Paz, parceira do Comando Vermelho. A rivalidade, dizem os investigadores, tem aumentado o número de homicídios no estado.

Na decisão em que autoriza as prisões solicitadas pela PF na operação Terra Livre, o juiz do caso cita esse crescimento nos índices de violência.

"Destaca-se que a violência está em índice alarmante, verificando-se diariamente, nesta Capital e em outras cidades do Estado, o aumento de registros de crimes de tal natureza, além da constatação de envolvimento, cada vez maior, de menores e crianças em tal prática", afirma Álvaro Marques de Freitas Filho.

O BDM já havia sido alvo da operação Tarja Preta, em março de 2022, que já apontava o caráter violento do grupo e o envolvimento nos graves crimes registrados.

"Atualmente, o Estado da Bahia passa por um aumento do número de homicídio, oscilando entre a primeira e segunda posição entre todos os estados brasileiros com maior número de mortes violentas. Sabidamente, esses altos índices de homicídios na Bahia estão relacionados a brigas por território entre as facções baianas, sendo a principal delas a facção BDM", afirmou a PF em documento da operação.

Durante a investigação, após prender uma das principais lideranças do BDM, a PF encontrou conversas em um grupo de WhatsApp em que ficaram expostas as tratativas de parceria entre a facção baiana e o PCC, além da participação em crimes por disputa de território.

No grupo, a PF encontrou informações sobre a tentativa da facção paulista em vender drogas dentro dos presídios baianos, o que foi barrado pelo BDM, mas sem que isso atrapalhasse o acordo existente.

"Tendo em vista que os líderes do BDM se mostravam reticentes com a possibilidade de o PCC negociar droga diretamente dentro dos presídios, sem a intermediação deles, as lideranças paulistas partiram para reafirmação do acordo de mútua cooperação por eles acertado e a possibilidade do fornecimento de droga pelo PCC para o BDM", diz trecho em que a PF explica a relação dos grupos.

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