Conselho investiga atendimento de médico que prescreveu sorvete e videogame para criança

Por FRANCISCO LIMA NETO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) investiga o atendimento prestado pelo médico neurologista Marcos Wesley Silva, que prescreveu sorvete de chocolate duas vezes ao dia e jogo Free Fire diário para um menino de 9 anos que estava com inflamação de garganta e sintomas gripais.

A reportagem não conseguiu contato com o profissional. Tanto a Prefeitura de Osasco quanto o CFM (Conselho Federal de Medicina) afirmaram que não podem fornecer o contato do médico.

O atendimento ocorreu na madrugada do último dia 18, na UPA Jardim Conceição, em Osasco, Grande São Paulo.

O médico atuava na rede pública por meio de uma OS (Organização Social) que administra a UPA e foi demitido depois de o caso vir à tona.

O Cremesp não detalhou se há algum indício de má conduta por parte do médico.

"A apuração segue sob sigilo determinado por lei. Qualquer posicionamento adicional por parte do Conselho poderá resultar na nulidade do processo", respondeu em nota.

MÃE RECLAMOU DO ATENDIMENTO

A mãe da criança, Priscila da Silva Ramos, 37, reclamou do atendimento médico, que, segundo ela, não examinou o menino.

"Ele começou a escrever a receita sem examinar meu filho, sem olhar a garganta, sem examinar o peito, sem nada nada. Aí ele perguntou para o meu filho se ele gostava de sorvete, ele falou que sim. Perguntou se de chocolate ou morango, meu filho respondeu de chocolate. Só que até então não imaginava que ele prescreveu o sorvete na receita. Aí ele prescreveu o sorvete e prescreveu o jogo", contou ela, que entendeu as recomendações do médico como um deboche.

Na receita médica constam cinco indicações de medicamentos: amoxicilina, ibuprofeno, dipirona, prednisolona e acetilcisteína -além de sorvete de chocolate duas vezes por dia, mais Free Fire diário.

Para o advogado Henderson Furst, presidente da Comissão de Bioética da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo), esse tipo de prescrição, geralmente, tem o objetivo de humanizar a relação.

"Alguns médicos que têm uma prática de humanizar a relação fazendo umas receitas que contenham algumas coisas fora do comum, mas que representam naquela relação um um ato de humanização. Já vi receita, por exemplo, que o médico falava 'cuide-se, você é especial, abrace mais'. É claro que essa mesma receita feita por um médico no contexto em que a relação médico-paciente está ruim pode soar muito estranha", disse.