Conheça os três perfis da febre maculosa no Brasil
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A febre maculosa, que vitimou três pessoas nos últimos dias, é uma doença recorrente no país. Os primeiros casos foram registrados em São Paulo (1929) e Minas Gerais (década de 30) e, até 2009, a bactéria Rickettsia rickettsii era apontada como único agente causador da moléstia no Brasil.
Em 2010, porém, a bactéria Rickettsia parkeri foi detectada e, devido à sua distribuição geográfica, a cepa foi denominada Mata Atlântica.
Essa nova riquetsiose, chamada de febre maculosa da Mata Atlântica, até o momento não provocou nenhum óbito, o que a difere da doença clássica, que apresenta taxa de letalidade de até 55 % na região Sudeste, segundo os autores do guia "Febre Maculosa: Aspectos Epidemiológicos, Clínicos e Ambientais", publicado no ano passado pelo Ministério da Saúde.
"O que nos preocupa mais são os cenários que envolvem a Rickettsia rickettsii porque é uma bactéria que pode levar à morte", afirma o biólogo Stefan Vilges de Oliveira, professor da Faculdade de Medicina da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e um dos organizadores da publicação.
Ele lembra, porém, que a taxa de infecção dos carrapatos é muito baixa e encontrar um animal como esse no corpo não implica o desenvolvimento da doença. "Temos pouquíssimos carrapatos na natureza infectados com as bactérias."
~~CARRAPATO-ESTRELA~~
O primeiro perfil é predominante na região Sudeste, tem a R. rickettsii como agente etiológico e o vetor é o carrapato Amblyomma sculptum (também conhecido como Amblyomma cajennense ou carrapato-estrela).
Nesse perfil, conta Oliveira, é comum as capivaras serem hospedeiras do carrapato, embora cavalos também possam exercer esse papel. O risco de infecção está associado a atividades em áreas rurais, como pescaria, camping e visitas a fazendas.
Historicamente, a maioria dos casos desse perfil foi notificada em adultos do sexo masculino, com atividades ocupacionais em áreas habitadas por capivaras, como margens de rios e lagos.
O quadro clínico geralmente caracteriza-se por febre de início abrupto e erupção cutânea, com evolução rápida, grave e alta letalidade. Com frequência, afirma Oliveira, os sintomas são atribuídos à dengue e o paciente não recebe o atendimento adequado.
Por isso, é extremamente importante informar o profissional de saúde. "Falar para os médicos: 'Estive em áreas que potencialmente podem ter carrapatos e estou com febre'", orienta o professor.
"Os carrapatos têm alguns estágios: ovos, larvas, ninfas e adultos. Muitas vezes, as pessoas não reconhecem as larvas como carrapatos e não relatam a possibilidade de parasitismo", afirma. "Mas larvas, ninfas e adultos têm o mesmo potencial de transmissão."
Amblyomma aureolatum
O segundo perfil é predominante na região metropolitana de São Paulo, sobretudo em áreas urbanas vizinhas a fragmentos de Mata Atlântica de altitude. A R. rickettsii também é o agente etiológico, porém o vetor é o carrapato Amblyomma aureolatum.
Nesse perfil, cães e gatos com acesso livre aos fragmentos de Mata Atlântica são parasitados por estágios adultos de A. aureolatum e levam os carrapatos para casa, expondo principalmente crianças e mulheres à doença.
Os sintomas e a letalidade são os mesmos do primeiro cenário, e o período de incubação da doença, ou seja, da infecção até a manifestação dos primeiros sintomas, varia de 2 a 14 dias.
Galeria Febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato-estrela Doença matou o casal de namorados, Mariana Giordano e Douglas Costa https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1768589288067418-febre-maculosa-e-transmitida-pela-picada-do-carrapato-estrela ***
Febre maculosa da Mata Atlântica
No terceiro perfil, a febre maculosa ocorre pela infecção por R. parkeri cepa Mata Atlântica e os casos são registrados predominantemente em áreas de mata atlântica nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Aqui, o vetor é o carrapato Amblyomma ovale.
Nesse cenário, os humanos têm risco de entrar em contato com os estágios adultos de A. ovale por atividades em áreas preservadas ou pela convivência com cães com acesso livre a áreas de mata.
As manifestações clínicas -com presença de febre, escara de inoculação e erupção cutânea- são menos severas se comparadas com os casos desencadeados por R. rickettsii e, por enquanto, não foi definido um padrão de sazonalidade.