Vídeo mostra PMs amarrando mãos e pés de homem já algemado

Por FRANCISCO LIMA NETO E PAULO EDUARDO DIAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Imagens que constam no processo criminal por roubo mostram o homem negro sendo amarrado por policiais militares em São Paulo mesmo depois de já estar algemado.

A gravações são do sistema de monitoramento de um prédio na rua Morgado de Mateus, na Vila Mariana, e mostram a ação dos policiais durante a prisão do homem de 32 anos depois de supostamente furtar duas caixas de bombom de um mercado na zona sul, no último dia 4.

A divulgação das imagens foi feita pela defesa do acusado. O advogado disse ainda que vai fazer uma representação por tortura no Ministério Público do Estado de São Paulo.

Em uma das gravações, o rapaz aparece no canto esquerdo da tela, deitado de barriga para baixo, já algemado e com um policial apoiado com os joelhos em suas costas. Outro agente traz uma corda que é utilizada para amarrar os pés e as mãos do suspeito, ainda que ele já estivesse algemado e não resistisse.

Na sequência, o suspeito rola um pouco na frente da garagem, e um policial se aproxima e aperta ainda mais a corda, deixando as mãos do homem atadas rente aos pés, na parte de trás do corpo.

"Isso é tortura. Um crime hediondo. Ainda assim, não se comenta, os próprios juízes, promotores e desembargadores simplesmente não dão qualquer tipo de juízo de valor. isso deixa a defesa bem indignada", afirma o advogado José Luiz de Oliveira Junior, que defende o suspeito.

Segundo ele, o sistema judiciário está desconsiderando as imagens, ainda que elas mostrem, de acordo com ele, o processo de tortura.

"Sinto a maior vergonha do Poder Judiciário nesse aspecto, e vergonha porque eles poderiam falar. Porque é evidente a tortura. Vou efetivamente realizar uma representação pelo crime de tortura diretamente no Ministério Público", afirmou.

O CASO

A Ouvidoria das polícias de São Paulo afirmou exigir uma investigação rigorosa sobre os métodos usados pelos PMs para prender o homem acusado de furtar duas caixas de bombons no último dia 4.

O homem de 32 anos teve as mãos e os pés amarrados após ser detido. Em vídeo que circula nas redes sociais, ele aparece sendo arrastado e carregado pelos policiais, colocado em uma maca e depois na parte de trás de uma viatura.

As cenas foram registradas em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Mariana. Enquanto é carregado, o homem grita de dor e afirma que está colaborando com a polícia.

Segundo o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o suspeito passou por audiência de custódia no dia 5 e teve a prisão em flagrante convertida para preventiva -ou seja, sem prazo definido.

Segundo o ouvidor Claudinho Silva, haveria uma apuração rigorosa por parte da Corregedoria.

"A gente não pode naturalizar esse tipo de tratamento", disse. "Aquilo é tortura, não é abordagem policial". Para ele, existiam outras condições para render o homem, pois o número de policiais era grande e, no limite, o acusado poderia ter sido algemado pelas pernas.

O ouvidor afirmou que a forma como o homem foi carregado lembra a de um "pau de arara". A expressão é usada para descrever um instrumento de tortura utilizado contra as pessoas que eram consideradas inimigas da ditadura militar brasileira (1964-1985).

"Aquele formato de carregamento, quando você vai fazer alguma analogia na história, é com o pau de arara", disse.

Os policiais relatam que o suspeito ofereceu resistência mesmo algemado e que, por isso, foi necessário usar uma corda para amarrar seus pés.

Ainda de acordo com o BO, os policiais disseram que o homem ameaçou se levantar e correr. O suspeito teria dito que pegaria a arma dos PMs e atiraria contra eles, como ocorreu na zona leste -uma referência ao caso registrado no dia 1º de junho em São Mateus, em que um homem lutou contra dois PMs, tomou a arma de um deles e conseguiu ferir os dois agentes.