Conchas que cobriram areia da praia de Copacabana somem dois dias depois

Por YURI EIRAS

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O corretor imobiliário Reginaldo Costa, 63, não acreditou que o tapete de conchas formado em uma pequena faixa de areia da praia de Copacabana, na altura do posto 6, na zona sul do Rio de Janeiro, era um fenômeno natural. As conchas foram vistas na última quarta-feira (28).

"Achei que fosse algum enfeite da festa de São Pedro, que aconteceu dia 29 na colônia de pescadores", diz.

O biólogo Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano, afirma que uma ressaca no início desta semana movimentou o fundo do mar e depositou as conchas na areia, despertando a curiosidade de quem passou pela praia de Copacabana entre quarta e quinta. Segundo ele, esse é um fenômeno comum.

"No último mês tivemos três ressacas. A última ressaca foi muito forte e teve ondulação de sul. Houve uma movimentação grande de areia, e as conchas surgiram de lado, com pedras e um monte de areia em outro lado. Foi um fenômeno natural. Foi estranho apenas ter acontecido em uma parte tão curta, um espaço de cerca de 25 metros de faixa de areia."

Abílio Soares Gomes, professor de biologia marinha da UFF (Universidade Federal Fluminense), acrescenta que as ressacas têm relação com as frentes frias. Os ventos fortes colaboram para uma ondulação maior no mar. Apesar de existirem temporadas de ressaca ao longo de todo o ano, as frentes frias são mais comuns no inverno.

"Com as ressacas, as conchas se movimentam e ajudam a manter o perfil da praia. É preciso que haja uma fonte de sedimento para que a praia não desapareça com o tempo. Existe um outro movimento de corrente marítima cuja tendência é retirar a areia da praia. Por isso, precisamos que a areia seja resposta", afirma.

O fenômeno acabou nesta sexta-feira (30), quando uma nova ressaca chegou ao Rio de Janeiro e levou parte das conchas de volta ao mar. "O mar ficou completamente parado até quinta. Na sexta pela manhã chegou uma nova ressaca. Às 7h, as conchas já tinham saído, restando apenas a camada das pedras", diz Ricardo Gomes.

Ele afirma que outra parte das conchas já havia sido levada por moradores, turistas e banhistas.

"As pessoas não pegavam uma concha, levavam sacos de conchas para casa. Somos conhecidos no mundo inteiro como um povo que tem tradição de praia, mas precisamos urgentemente de cultura oceânica."