Usuários atacam ônibus próximo à cracolândia, e ao menos 6 veículos são depredados, diz SPTrans

Por MARIANA ZYLBERKAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo de usuários de drogas depredou ônibus e saqueou um caminhão de bebidas em ruas próximas à cracolândia, na região central de São Paulo, no início da tarde desta terça-feira (11).

Vídeos gravados por moradores mostram o momento em que o grupo cerca um coletivo e arremessa objetos para quebrar os vidros.

Em outra sequência, usuários correm após atacarem um caminhão de bebidas que iria abastecer um mercado na alameda Barão de Limeira, na esquina da rua Vitória, em Campos Elíseos.

Segundo a SPTrans, que gere o transporte coletivo municipal, ao menos seis ônibus sofreram atos de vandalismo na região central. A empresa não deu detalhes das ocorrências.

"A SPTrans mantém contato com a PM em relação às ocorrências de violência no transporte público e esclarece que todos os registros que recebe de usuários são comunicados ao setor de inteligência das autoridades policiais", afirma o órgão.

A confusão começou quando usuários de drogas depredaram uma viatura da Polícia Militar na praça Júlio de Mesquita. Em seguida, o ônibus foi apedrejado e um caminhão de bebidas, saqueado.

Houve confronto entre usuários e policiais na altura da rua General Osório esquina com a avenida Rio Branco. Usuários confrontaram os policiais, que reagiram com bombas de efeito moral.

A reação dos policiais militares dispersaram os usuários que se concentraram em pequenos grupos em pontos da avenida Duque de Caxias e ruas da Santa Ifigênia. Algum tempo depois uma concentração maior se formou na esquina da avenida Rio Branco com a rua dos Gusmões, local recorrente da cracolândia nas últimas semanas.

Um homem foi preso acusado de depredar a viatura e encaminhado ao 77 DP (Campos Elísios). De acordo com o capitão da PM que coordena a operação, equipes de Rocam, Força Tática e Iope foram acionadas para seguir em patrulhas pela área entre a avenida Rio Branco e as ruas de Santa Ifigênia após as ocorrências de depredação.

As cenas ocorrem após uma tentativa de remoção da cracolândia, no último fim de semana.

Na noite de sábado (8), um pelotão formado por guardas-civis e policiais civis e militares escoltou o fluxo -como é conhecida a concentração de usuários- da cracolândia da rua dos Protestantes até a parte de baixo da ponte Governador Orestes Quércia, conhecida como Estaiadinha, na marginal Tietê, perto da avenida do Estado.

Vídeos obtidos pela reportagem mostravam viaturas da GCM acompanhando o grupo de dependentes químicos nas imediações da rua José Paulino, no Bom Retiro. Antes disso, moradores do entorno da rua dos Protestantes relataram o uso de bombas de gás para dispersão do fluxo.

A intenção, segundo policiais ouvidos pela reportagem, era que a cracolândia se mantivesse por ali.

Poucas horas depois os usuários voltaram a ocupar a rua Conselheiro Nébias, bloqueando o trecho entre as ruas Aurora e Timbiras. Também era possível encontrar usuários de drogas pelo largo General Osório. Alguns pareciam estar exaustos e deitavam nas calçadas molhadas.

Nesta segunda (10), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) voltou a afirmar que a concentração de usuários de drogas da cracolândia tem dinâmica própria e negou a informação de que a prefeitura tenha tentado removê-los da região da Santa Ifigênia.

"Apesar de vocês insistirem em falar que a GCM conduz aquele grupo de pessoas para algum local, a gente só faz o acompanhamento. Eles têm uma dinâmica própria. Se não fosse assim, eles não teriam ido para outro local, né?", disse Nunes.

Há mais de um ano a cracolândia que antes ocupava o entorno da praça Júlio Prestes se dispersou pelas ruas do centro da cidade. Ao menos oito vias foram ocupadas pelos usuários de drogas no período e o tema foi declarado como prioridade pelas gestões municipal e estadual.

Em meio ao clima de instabilidade, proliferaram casos de empresas de segurança privada ligadas a guardas-civis metropolitanos e policiais militares que passaram a vender pacotes de vigilância privada a moradores e comerciantes.

A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) inaugurou no início de abril um equipamento de saúde para aumentar a taxa de internação entre frequentadores da cracolândia. Até o momento, porém, 4 em cada 10 usuários da cracolândia deram entrada no serviço.

Há cerca de um mês a prefeitura trocou o comando da pasta responsável pela gestão da cracolândia. O ex-secretário de Projetos Especiais Alexis Vargas pediu demissão após Edsom Ortega ser sido nomeado para assumir a zeladoria e a segurança urbana na cracolândia.

Ex-secretário de Segurança Urbana na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), em 2012, Ortega proibiu a distribuição de sopas e marmitas a moradores de rua na região central de São Paulo.

USUÁRIOS SAQUEARAM FARMÁCIA EM ABRIL

Em abril, usuários de drogas invadiram e saquearam uma drogaria na avenida São João, na região central de São Paulo. O caso aconteceu depois dos dependentes químicos terem sido dispersados por uma ação conjunta de GCM (Guarda Civil Metropolitana), Polícia Militar e Polícia Civil na cracolândia.

Nas cenas que foram registradas por câmeras de monitoramento, os usuários destruíram estandes e levaram o que encontraram pela frente, se afastando o mais rápido o possível. Pouco depois, o policiamento chegou ao local.

Mesmo após a dispersão do entorno da drogaria, os usuários continuaram vagando pela avenida São João, inclusive no meio da via, e atacaram, ao menos, mais um comércio.