BA e RJ puxam alta de furto de celular; Brasil tem quase 1 milhão de aparelhos roubados por ano

Por JOÃO PEDRO PITOMBO E CAMILA ZARUR

SALVADOR, BA, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Os estados da Bahia e do Rio de Janeiro puxaram a alta de furtos e roubos de telefones celulares no país, apontam dados do anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira (20).

O Brasil registrou um crescimento de 16,6% neste tipo de crime no período de um ano, saindo de 853 mil casos em 2021 para 999,2 mil ocorrências no ano passado. A média é de 114 celulares roubados por hora no país, cerca de 2 a cada minuto.

O roubo e furto de celulares se tornou nos últimos anos o mais comum dentre os crimes patrimoniais. Isso porque o equipamento roubado passou a ser usado no cometimento de outros crimes.

"O aparelho celular continua tendo um alto valor de hardware, mas a principal razão para os roubos é que o equipamento se transformou em porta de entrada para golpes e extorsão. Isso é uma tendência mundial", avalia Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Este tipo de crime ganhou mais força a partir da pandemia da Covid-19, que deu maior popularidade ao comércio eletrônico a partir de aplicativos nos celulares. No Brasil, o avanço também está ligado à criação do Pix, que facilitou operações de transferência de valor a partir dos aplicativos dos bancos.

Ao todo, foram registrados no ano passado 508,3 mil casos celulares roubados, crime cometido mediante violência ou ameaça, e 490,8 mil ocorrências de furtos.

O crescimento contrasta com os indicadores registrados nos últimos anos no país, que desde 2020 vinham em uma curva descendente nos casos de furtos e roubos de celulares.

A redução aconteceu em meio ao cenário da pandemia, que reduziu a circulação de pessoas nas ruas e suspendeu a realização de festejos populares, que costumam registrar picos de aparelhos roubados. Com a nova alta, o número de ocorrências volta a um patamar semelhante ao de 2019.

Em números absolutos, São Paulo foi o estado que mais registrou furtos e roubos de celulares em 2022, seguido de Bahia, Pará, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Em termos relativos, porém, o campeão de ocorrências é o estado do Amazonas, seguido do Distrito Federal, ambos com mais de 1.000 casos para cada 100 mil habitantes. Na sequência, aparecem São Paulo, Espírito Santo e Piauí.

Mas foi a Bahia o estado que viu disparar em 2022 em comparação com o ano anterior. Foram 48,9 mil casos em 2021, número que escalou para 83,4 mil em no ano passado, avanço de 70%

O aumento aconteceu em meio às flexibilizações de medidas restritivas com o arrefecimento da pandemia. Em 2022, a despeito de festas como o Carnaval terem sido suspensas, o estado viveu retorno de festas privadas, eventos culturais e forte retomada do turismo. Uma das consequências foi uma escalada de furtos e roubos em áreas turísticas, caso da região do Pelourinho, em Salvador.

No mesmo período, a Bahia também registrou crescimento nos demais tipos de crimes contra o patrimônio. Houve avanço no número de roubos e furtos de veículos, residências, estabelecimentos comerciais, transeuntes. Foi registrada queda apenas nos roubos a instituições financeiras.

O Rio de Janeiro, por sua vez, teve um aumento de 58,6% no número de roubos e furtos de celulares, registrando a segunda maior variação de 2021 a 2022. Em um ano, o estado foi de cerca de 21 mil ocorrências para mais de 46 mil.

A analista de compras Natália Santucci, 32, foi uma dessas vítimas. Em um período de menos de um ano, ela foi roubada duas vezes na porta de casa, no centro da capital fluminense. A primeira vez foi em junho de 2022, ao ser assaltada por um homem armado enquanto esperava um carro de aplicativo ao lado de um amigo, próximo à praça da Cruz Vermelha.

O caso fez com que ela se mudasse para outro ponto no centro do Rio, mas mesmo assim acabou sendo vítima novamente. Em abril deste ano, foi a vez de um motociclista levar seu celular.

Depois dos dois casos, Natália decidiu se mudar para Niterói, na região metropolitana, em busca de uma melhor qualidade de vida.

Apesar do aumento expressivo de roubos e furtos de celulares, o Rio de Janeiro teve uma queda em parte dos crimes patrimoniais. As ocorrências de roubo a transeunte caiu 6,6%, enquanto contra residências e estabelecimentos reduziram em 19% e 24,1%, respectivamente.

Em contrapartida, houve um aumento de 5,9% de roubos e furtos de veículos, tornando o Rio o estado proporcionalmente com maior número de ocorrência do tipo ?562 mil casos para cada 100 mil habitantes.

Ao todo, 19 estados e o Distrito Federal tiveram crescimento em roubos e furtos de celulares no ano passado. Além de Bahia e Rio, o maior avanço aconteceu em Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outros oito estados conseguiram reduzir os indicadores, com destaque para o Mato Grosso, que registrou uma queda de 41%.

O enfrentamento a este tipo de crime se impõe como um desafio a ser enfrentado de forma coordenada entre governos e polícias. Na avaliação de Renato Sérgio de Lima, é preciso dar maior atenção ao crime de receptação dos telefones roubados, que passaram a ser controlados por facções criminosas.

Também é necessário rever a legislação, já que os golpes feitos a partir de telefones celulares em geral são enquadrados como crime de estelionato, cuja pena em geral é menor que a de um roubo.

Por envolver menos riscos de confronto e maior possibilidade de ganhos a partir de golpes, os roubos a celulares crescem enquanto caem os demais tipos de crimes patrimoniais

Os indicadores de 2022 mostram que o Brasil registrou quedas de 15,6% nos roubos a estabelecimentos comerciais, de 13,2% nos roubos a residências e de 4,4% nos roubos a transeuntes. Também houve redução de 21,9% nos roubos a instituições financeiras e de 5,9% nos roubos de cargas.

A exceção são os roubos a veículos, que cresceram 8% no país entre 2021 e 2022. O maior avanço aconteceu nos estados de Pernambuco, Bahia e São Paulo.