Ex-PM confessa participação na morte de Marielle, incrimina Lessa e dá detalhes do crime
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, informou nesta segunda-feira (24) que o ex-policial militar Élcio Queiroz fez uma delação premiada sobre o assassinato de Marielle Franco. O ex-agente confirmou a participação dele, de Ronnie Lessa e de Maxwell Simões Corrêa no caso.
Corrêa, ex-bombeiro, foi preso nesta segunda em uma nova operação da Polícia Federal do Ministério Público do Rio de Janeiro que investiga a morte da então vereadora e do motorista Anderson Gomes. Também foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão na capital e na região metropolitana.
Segundo o ministro, Lessa e Queiroz participaram da execução do crime e Maxwell atuou na preparação do crime e na proteção dos demais. "O senhor Maxwell comparece nas investigações na preparação, inclusive na ocorrência de campana, de vigilância de acompanhamento da rotina da vereadora Marielle, e posteriormente no acobertamento dos autores do crime", disse Dino.
"Há um avanço, mudança de patamar da investigação. Ela se conclui no patamar da execução, e há elementos para um outro patamar, que seria investigação dos mandantes do crime", disse Dino, ao explicar em que ponto está a apuração nesse momento e qual será o próximo passo.
Dino disse que as provas colhidas indicam a participação da milícia no caso Marielle. O ministro disse que há suspeita de que outras pessoas atuaram no crime, mas não deu detalhes.
"Sem dúvida há a participação de outras pessoas, os fatos revelados e as provas colhidas indicam isso. Indica uma forte vinculação desses homicídios, especialmente da vereadora Marielle, com a atuação das milícias e o crime organizado no Rio de Janeiro. Isso é indiscutível. Até onde vai isso as novas etapas vão ser reveladas. Ronnie, Élcio e Maxwell participam de um conjunto que está relacionado a essas organizações criminosas no Rio de Janeiro, infelizmente."
Queiroz está preso sob acusação de ter dirigido o veículo para que Lessa disparasse contra as vítimas.
Conhecido como Suel, o ex-bombeiro já havia sido preso sob suspeita de envolvimento no crime e obstrução das investigações. Ele cumpria a pena em regime aberto. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Maxwell.
A primeira prisão do ex-bombeiro foi em junho de 2020. Recentemente, em março deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio aumentou a pena de Maxwell pela condenação por obstrução das investigações sobre o assassinato. A sentença aumentou de quatro para seis anos e nove meses, que ele cumpria em regime aberto.
Marielle e Anderson foram assassinados a tiros no dia 14 de março de 2018. Eles voltavam de um evento na Lapa, e seu carro foi alvejado enquanto passavam pelo Estácio, também na região central do Rio. Um ano após a morte, Lessa e Queiroz foram presos.
Cinco anos após o assassinato de Marielle, ainda não foi esclarecido quem foram os mandantes do crime e quais as motivação para matar a vereadora.
Dino anunciou no início do ano que a Polícia Federal e Ministério Público do Rio de Janeiro passariam a trabalhar em parceria visando o andamento e a conclusão das investigações.
A ideia foi fortalecer a força-tarefa da Promotoria já existente destinada, exclusivamente, a apurar os desdobramentos dos mandantes do crime, para que a PF, que já acompanha o caso, auxiliasse de uma forma mais direta na investigação juntamente com a Polícia Civil do Rio de Janeiro.
"Esse trabalho conseguiu produzir provas novas. Em razão dessas provas colhidas, tivemos a colaboração premiada do senhor Élcio, ele confirma a sua própria participação, a participação de de Ronnie Lessa e traz os elementos relativos de Maxwell", disse.
Segundo Dino, essa delação ocorreu há cerca de 15 ou 20 dias e já foi homologada pelo Poder Judiciário. A operação desta segunda já foi decorrente do acordo. O ministro disse que os depoimentos vão levar a outras pessoas que participaram do crime.