Saiba quem são os alvos na operação que investiga morte de Marielle Franco

Por CAMILA ZARUR

Cinco anos após assassinato, caso Marielle Franco segue indefinido

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Seis pessoas foram intimadas a depor na investigação que apura a morte e as motivações para o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Os depoimentos fazem parte da primeira fase da nova operação, da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio de Janeiro, que prendeu nesta segunda-feira (24) o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa.

Das seis pessoas intimadas a depor, apenas duas compareceram à sede da Polícia Federal, no Centro do Rio. São elas Denis Lessa, irmão de Ronnie Lessa (este apontado pela promotoria como autor dos disparos que mataram a vereadora); e Edison Barbosa dos Santos, suspeito de fazer o desmanche do carro usado na noite do crime. A Folha não conseguiu com a defesa deles e dos outros intimados.

Já a defesa de Maxwell afirmou que só se pronunciará após ler todos os autos do processo.

Marielle e Anderson foram assassinados a tiros no dia 14 de março de 2018. Eles voltavam de um evento na Lapa, e o carro onde estavam foi alvejado enquanto passavam pelo Estácio, também na região central do Rio. Um ano após a morte, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos. O primeiro é acusado de ter sido o autor dos disparos, e o segundo, de ter dirigido o carro usado no crime.

Tanto a prisão de Maxwell quanto a intimação para as seis pessoas prestarem depoimento foram pedidas após um acordo de colaboração feito entre os investigadores e Queiroz. Em sua delação, o ex-PM confirmou sua participação no crime e indicou o suposto envolvimento dos demais citados.

Entre os intimados há também um policial militar, o filho de um delegado da Polícia Federal. Saiba abaixo quem é quem.

MAXWELL SIMÕES CORRÊA

Preso nesta segunda-feira, Maxwell, conhecido como Suel, já havia sido condenado, em 2021, por tentar obstruir as investigações sobre a morte de Marielle. Ele é suspeito de ter emprestado o carro para guardar o arsenal de Ronnie, entre os dias 13 e 14 março de 2019, para que o armamento fosse, posteriormente, descartado em alto mar.

Com a delação de Queiroz, novas suspeitas recaíram sobre o ex-bombeiro. Maxwell teria participado do planejamento do crime, tendo ficado de campana para vigiar e acompanhar a vereadora.

As investigações apontaram ainda que Maxwell iria participar do assassinato, mas, no dia do crime, Ronnie preferiu chamar Queiroz no lugar do ex-bombeiro. Isso porque, segundo a delação do ex-policial, os dois teriam tentado matar Marielle três meses antes do crime, mas a ofensiva teria dado errado.

O suposto atirador atribuiu a culpa de a ofensiva ter falhado a Maxwell e, por isso, decidiu chamar Queiroz para fazer o serviço, conforme o ex-PM declarou na delação.

Dos dois intimados que prestaram depoimento nesta segunda-feira, Denis Lessa é suspeito de ter recebido uma bolsa do irmão, Ronnie, com as armas e ferramentas utilizados no assassinato da vereadora. Segundo a investigação, o material foi entregue a ele logo depois do crime.

Ainda segundo a delação, Denis estava na casa do irmão, no Méier, local para onde Ronnie e Queiroz seguiram depois do assassinato. De lá, além de ter recebido a bolsa, Denis também pediu um táxi para a dupla seguir até a Barra da Tijuca, onde Ronnie também tem casa.

"Interfonaram para o seu irmão, Denis Lessa, e entregaram-lhe a bolsa contendo os petrechos utilizados no crime. A partir disso, Ronnie solicita ao seu irmão que chame um táxi. E aí é o nosso elemento de corroboração mais efetivo, mais contundente. Nós conseguimos, junto à cooperativa de táxi, o rastreamento dessa corrida de ambos, do Méier até a Barra da Tijuca", diz o delegado da Polícia Federal Guilhermo Catramby, um dos responsáveis pela investigação.

A Polícia Federal, no entanto, informou que ainda não há provas de que Denis soubesse previamente do crime nem que tivesse conhecimento do que tinha na sacola que lhe foi entregue pelo irmão.

O segundo a prestar depoimento foi Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha. Segundo Queiroz afirmou na delação, é ele quem foi o responsável pelo desmanche do carro usado no crime. O descarte, segundo a investigação, foi feito em Rocha Miranda, na zona norte.

"O Orelha tinha uma agência de automóveis, de recuperar automóveis. Então, consequentemente tinha contato com essas pessoas que tem peças de carro, ele já teve ferro velho", disse Queiroz na delação. O desmanche teria sido feito na manhã seguinte às mortes.

OPERAÇÃO VAZADA E DESCARTE DE ARMAS

A investigação também apontou o policial militar Maurício da Conceição dos Santos Júnior e Jomar Duarte Bittencourt Junior, filho de um delgado da PF, como suspeitos de terem vazado a Ronnie informações sobre a operação que o prenderia. O ex-PM foi preso em março de 2019 na operação da Polícia Civil que recebeu o nome de Lume.

Segundo os promotores, Mauricinho e Jomarzinho teriam avisado a Ronnie sobre a operação, o que fez o ex-PM tentar fugir para Angra dos Reis, na Região dos Lagos. No entanto, o suspeito do assassinato de Marielle foi capturado pelos agentes antes que conseguisse ter sucesso na fuga.

O Ministério Público disse que Maurício e Jomar também avisaram a Maxwell sobre a ação da Polícia Civil, embora o ex-bombeiro não fosse alvo. Os dois foram intimados a depor pela Polícia Federal, mas não compareceram à sede da corporação nesta segunda-feira.

Por fim, entre os outros intimados que não foram prestar depoimento estão João Paulo Vianna Soares, conhecido como Gato do Mato, e Alessandra da Silva Farizote. Eles são suspeitos de terem recebido a arma usada por Ronnie no crime, uma submetralhadora MP5.

Segundo Queiroz, Ronnie e João Paulo tinha uma relação próxima de confiança e já foram sócios. Alessandra, esposa do Gato do Mato, também era conhecida pelo ex-PM.