Domicílios com quilombolas têm mais moradores do que a média no Brasil, mostra Censo
RIO DE JANEIR, RJ (FOLHAPRESS) - A média de moradores nos domicílios onde há presença de quilombolas supera a da população total no Brasil.
A conclusão é de um retrato inédito do Censo 2022 divulgado nesta quinta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o instituto, a média de moradores alcançou 3,17 nos domicílios com pelo menos uma pessoa quilombola. Na população total, o número foi de 2,79.
Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, afirmou que os resultados podem sinalizar diferenças demográficas dos quilombolas em relação ao restante da população.
Isso, contudo, só poderá ser confirmado quando o instituto divulgar mais detalhes do Censo, incluindo as estatísticas sobre a idade dos brasileiros.
"Temos hipóteses que só vão ser confirmadas quando pudermos trabalhar com os dados por sexo e idade, fecundidade, migração e mortalidade", disse ela.
"Os parâmetros que monitoramos durante a coleta têm indícios de que podemos ter um comportamento demográfico diferenciado da população quilombola. Essa média mais elevada pode ser um pequeno indicativo disso", acrescentou.
Outros dados do próprio IBGE já apontaram que mais brasileiros estão vivendo sozinhos, em boa parte idosos, nos últimos anos. Um dos motivos seria o envelhecimento da população.
Se realmente há alguma diferença dos quilombolas nesse aspecto, é o detalhamento do Censo 2022 que poderá mostrá-la mais à frente.
BRASIL TEM 474 MIL DOMICÍLIOS COM QUILOMBOLAS
O recenseamento trabalha com o conceito de domicílios particulares permanentes ocupados. São os endereços construídos exclusivamente para habitação e que registraram a presença de moradores durante o período da coleta dos dados.
No Brasil, o IBGE identificou quase 474 mil domicílios particulares permanentes com pelo menos um quilombola. O número equivale a 0,65% do total.
Segundo o Censo, o país tem 1,3 milhão de pessoas autodeclaradas quilombolas. Esse contingente também corresponde a 0,65% do total da população.
Os dados sobre quilombolas são inéditos porque, antes de 2022, o grupo só era contabilizado no total populacional de cada recenseamento. Não havia o recorte específico dessa parcela dos brasileiros no Censo.
A média de moradores nos domicílios onde há presença de quilombolas supera a da população total nas cinco grandes regiões do país.
O Norte se destaca nesse aspecto. A média de moradores nos domicílios com quilombolas foi de 3,73 na região. É o maior patamar do país.
Entre as unidades da federação, o topo da lista é preenchido pelo Amazonas: 4,71. Amapá (3,89), Pará (3,77), Maranhão (3,37) e Alagoas (3,26) vêm em seguida.
Piauí (3,22), Tocantins (3,22), Ceará (3,17) e Rondônia (3,17) também registraram média de moradores superior ou igual à nacional (3,17) no caso dos domicílios com quilombolas.
O Distrito Federal (2,77) e o Rio Grande do Sul (2,80), por outro lado, tiveram a menor marca entre as 25 unidades da federação com população quilombola.