Atirador ligou para advogada após matar a ex e se refugiar em apartamento em SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O autônomo José Roberto Leandro, 44, deu início a um curto diálogo com a advogada Marisa Moreira Dias, amiga da família há 30 anos, na manhã da última terça (1º).
Naquele momento, por volta das 9h30, Leandro havia matado a ex-mulher, Jussara Burguz Tonon, 46, com três disparos. Usou uma pistola calibre 9mm, de uso restrito, comprada na condição de CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador).
Segundo Marisa contou à polícia, o homem pediu que ela prestasse assistência para a mãe e a irmã dele. Passou ainda o endereço de onde estava, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, sem dar mais explicações.
No caminho para o local Marisa foi informada por policiais de que o amigo havia matado a ex-mulher e fugido para o próprio apartamento, onde estava trancado pedindo a presença dela para se entregar.
As negociações foram feitas pelo Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais). Conforme os policiais contaram, do lado de fora, Leandro foi avisado de que a advogada estava no condomínio. Ele teria concordado com a rendição.
"Por volta das 12h30, o senhor José Roberto disse que iria trocar de roupa, separar os documentos, deixar a arma dentro do imóvel e se entregar. Ocorre que, depois disso, ouviram um disparo de arma de fogo", diz trecho de documento obtido pela reportagem.
Os PMs informaram que, após o estrondo, tentaram retomar o diálogo com o autônomo, esperando ter sido apenas um "disparo provocativo". Sem resposta, decidiram arrobar a porta. Encontraram Leandro ferido, ao lado da arma.
"Uma equipe de socorrista do Grupo de Resgate e Atendimento a Urgência tentou reanimar o indivíduo, mas ele veio a óbito no local", diz depoimento.
Marisa não subiu ao apartamento e não teve contato direito com o autônomo. Disse à reportaem estar abalada e que prefere não falar mais sobre a tragédia.
Também ouvido pela Polícia Civil, um porteiro do prédio de Jussara afirmou nunca ter presenciado episódios de brigas entre o casal. "Eles se separavam há cerca de um mês e meio, quando a entrada dele foi proibida no condomínio sem a autorização da vítima", disse.
Leandro não tinha antecedentes criminais. Segundo amigos, era uma pessoa alegre e que gostava de contar piadas. Desde os tempos de operador do pregão na bolsa de valores, nos anos 1990, ganhou o apelido de Eddie Murphy, em referência ao célebre comediante norte-americano. Foi bancário e, atualmente, era autônomo no mercado financeiro. Para alguns, Leandro dava demonstrações de ser ciumento.
Jussara era considerada uma pessoa trabalhadora. Quando foi atacada, seguia para a sede do Bradesco, em Osasco (Grande São Paulo), onde fazia atendimento ao cliente.
O casal se conhecera havia mais de dez anos, e a separação vinha se desenrolando desde meados do último. Acreditava-se, de forma amistosa.
Como mostrou o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o estado de São Paulo registrou 195 casos casos de feminicídio em 2022, 43,3% mais do que no ano anterior. No Brasil foram 1.400 registros, uma alta de 6,6% em relação a 2021. Em grande parte, o autor do crime é companheiro ou ex-companheiro da vítima.
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COMO DENUNCIAR VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES
- No caso de urgência, ligue para o 190
- Para atendimento multiprofissional, em São Paulo, vá a Casa da Mulher Brasileira (r. Vieira Ravasco, 26, Cambuci, tel.: 3275-8000) ?local funciona 24 horas todos os dias. A mulher tem acesso a delegacia, Ministério Público, Tribunal de Justiça e alojamento provisório se não puder voltar para casa.
- Na Ouvidoria das Mulheres, por meio de um formulário online.
- Projetos como Justiça de Saia, MeTooBrasil e Instituto Survivor dão apoio jurídico e psicológico para as mulheres vítimas de abuso e violência doméstica.