Entrega de trio de estações de metrô como em Perdizes é inédito em mais de 30 anos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na última vez que três estações de metrô foram entregues simultaneamente num mesmo distrito em São Paulo, os bilhetes eram de papel (anunciava-se um cartão de plástico como novidade em fase de testes) e só havia duas linhas no sistema ?a então Norte-Sul, de Santana a Jabaquara, mais tarde rebatizada linha 1-azul, e a Leste-Oeste, de Itaquera a Barra Funda, depois linha 3-vermelha.
Em 25 de janeiro de 1991, a inauguração das estações Consolação, Trianon-Masp e Brigadeiro marcava o início da operação do trecho Paulista, hoje linha 2-verde. Pela estimativa da concessionária Linha Uni ?da empresa espanhola Acciona, que está construindo e vai operar o ramal?, Perdizes viverá essa experiência daqui a pouco mais de dois anos, com a entrega das paradas PUC-Cardoso de Almeida, Perdizes e Sesc Pompeia.
Conforme o cronograma acertado com a Secretaria de Parcerias e Investimentos do governo do Estado, as obras da linha 6-laranja serão concluídas em outubro de 2025.
Junto com um certo pandemônio urbano típico de obras em série ?barulho, poeira, bloqueio de ruas etc? e críticas de moradores à descaracterização de um bairro ainda residencial e relativamente pacato, a construção de novas estações gera também expectativas positivas.
Morador de Perdizes desde 1986, o médico Amarílio Pinto conta que já usou mais carro, hoje prioriza ônibus e metrô e espera que sua vizinhança faça o mesmo ?embora confesse algum receio de que, com tantos novos prédios, o trânsito do bairro piore. "Tomara que o pessoal siga a lógica de utilizar mais transporte público, já que agora teremos mais opções. Estamos muito atrasados nesse quesito. Para o tamanho da cidade, São Paulo tem uma malha metroviária pequena. Ainda bem que a coisa está andando."
Está, mas nos últimos anos andou a passos muito lentos. A história da linha-6 laranja remonta pelo menos a 2008, quando o então governador José Serra (PSDB) anunciou projeto para levar o metrô até a periferia da zona norte da capital ?disse na época que a concorrência seria aberta no final daquele ano e que as obras deveriam começar em 2010, com conclusão em 2012.
Desde então, o plano de uma linha ligando a Brasilândia ao centro passando por vários centros de ensino superior, como PUC, Mackenzie, Faap, Unip e Uninove ?daí porque ficou conhecida como a "linha das universidades"?, foi adiado incontáveis vezes.
Iniciadas enfim em 2015, as obras foram paralisadas no ano seguinte, quando as empreiteiras do consórcio então responsável, investigadas na Operação Lava Jato, anunciaram dificuldades em obter financiamento de longo prazo.
Com canteiros abandonados e acumulando lixo por mais de três anos, apenas no final de 2019 o governo paulista anunciou que a Acciona assumiria a concessão para construção e operação por 19 anos da linha de metrô de 15 km com 15 estações ?no formato original, o Executivo estadual seria parceiro na empreitada. O contrato só foi assinado oito meses depois, em 2020.
Acidentes também atrapalharam o andamento das obras. Em junho, a passagem do tatuzão ?apelido do equipamento usado na abertura dos túneis do metrô? fez o solo ceder e causou a interdição de imóveis na região da Freguesia do Ó, na zona norte.
Em fevereiro do ano passado, o rompimento de uma tubulação de esgoto abriu uma cratera na marginal Tietê, na altura da ponte da Freguesia do Ó, interrompendo os trabalhos próximos à estação Santa Marina por mais de seis meses.
Antes da estreia do trecho Paulista, a entrega anterior de três estações simultâneas no mesmo distrito havia sido entre 1974 e 1975, com a inauguração das estações Santa Cruz, Vila Mariana e Ana Rosa da linha 1-azul.
A abertura de estações de metrô tem relação direta com a demanda imobiliária de São Paulo. O bairro da cidade em que mais são vendidos apartamentos, Vila Andrade, na zona sul, foi há poucos anos contemplado com estações da linha-5-lilás (concluída em 2019) e vive a expectativa de outras da futura linha 17-ouro (prometida para 2026).