Preservar a floresta exige dinheiro para cuidar do povo, diz Lula ao encerrar Cúpula da Amazônia

Por ANA CAROLINA AMARAL E JÉSSICA MAES

BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) encerrou a Cúpula da Amazônia dando o tom de como deve ser a posição brasileira e de outros países detentores de florestas tropicais nas negociações climáticas.

"Nós vamos para a COP28 com o objetivo de dizer ao mundo rico que se quiserem preservar efetivamente o que existe de floresta é preciso colocar dinheiro não apenas para cuidar da copa da floresta, mas para cuidar do povo que mora lá embaixo", afirmou durante pronunciamento à imprensa em Belém nesta quarta-feira (9).

A declaração aconteceu após uma reunião com autoridades dos países amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), da República Democrática do Congo, do Congo e da Indonésia, que também têm grande parte do seu território coberto por matas úmidas, e de São Vicente e Granadinas, que preside a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

"Defenderemos juntos que os compromissos de financiamento climático assumidos pelos países ricos sejam cumpridos", afirmou o petista.

"Não é o Brasil que precisa de dinheiro, não é a Colômbia que precisa de dinheiro, não é a Bolívia ou a Venezuela. É a natureza, que o desenvolvimento industrial, ao longo de 200 anos, poluiu e está precisando que [as nações desenvolvidas] paguem a sua parte agora para recompor parte daquilo que foi estragado."

Junto à declaração do presidente, o governo federal publicou no início da tarde um comunicado conjunto que dá direção ao posicionamento de países florestais em negociações do clima e da biodiversidade da ONU.

Intitulado "Unidos por nossas florestas", texto tem dez parágrafos. Quatro deles cobram responsabilidades dos países desenvolvidos, principalmente de cumprimento de promessas de financiamento e também de mitigação das mudanças climáticas.

Reafirmando uma posição compartilhada pelo bloco dos países em desenvolvimento, o texto menciona a "a necessidade dos países desenvolvidos de liderar e acelerar a descarbonização de suas economias".

O texto reforça a cobrança dos US$ 100 bilhões anuais para o clima, que os países desenvolvidos haviam prometido desembolsar entre 2020 e 2025, mas ainda estão prestes a anunciar a concretização apenas da primeira remessa.

No mesmo parágrafo, o documento cita um compromisso anterior, com doações para o desenvolvimento, que deveriam corresponder a compromisso de financiamento para o desenvolvimento equivalente a 0,7% do rendimento nacional bruto.

A diferenciação entre o financiamento do desenvolvimento e da agenda climática é um pedido frequente dos países africanos nas negociações, com vistas a garantir, como o documento menciona, que os recursos para o clima sejam novos e adicionais, e não apenas uma nova etiqueta para o mesmo dinheiro.

O texto ainda cobra um compromisso conquistado no último ano, quando os países assinaram o novo Marco Global da Biodiversidade, que prevê US$ 200 bilhões anuais para a conservação da biodiversidade até 2030.

Outro recado ao bloco desenvolvido mira a União Europeia e repete a mensagem dada na Declaração de Belém, assinado na terça-feira (8) pelos países amazônicos: "condenamos a adoção de medidas para combater as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente, incluindo as medidas unilaterais, que constituam um meio de discriminação arbitrária ou injustificável ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional", diz o texto do comunicado, em crítica às novas exigências feitas pelo bloco europeu para um acordo comercial com o Mercosul.

Em seu discurso, Lula reforçou este ponto, ao dizer que "medidas protecionistas mal disfarçadas de preocupação ambiental" por parte dos países ricos não são o caminho a seguir.

As repórteres viajaram a Belém a convite do Instituto Clima e Sociedade e da Avaaz.