Níveis de chuva em oito estados do Norte e Nordeste são os mais baixos em 40 anos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Regiões de Acre, Amapá, Maranhão, Piauí, Bahia, Sergipe e, principalmente, Amazonas e Pará, registraram neste ano os menores índices de chuva no período de julho a setembro desde 1980. Os dados são do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
"A situação é especialmente severa no interior do Amazonas e no norte do Pará", afirma a meteorologista Regina Alvalá, diretora do Cemaden.
Ela explica que a escassez de chuvas na região, que está sendo registrada desde maio, está associada ao aquecimento no sudoeste da amazônia --consequência do inverno mais quente trazido pelo El Niño, que está provocando recordes de temperatura ao redor do planeta.
Nas últimas semanas, a seca no Norte do país tem deixado comunidades ribeirinhas isoladas pelo baixo nível dos rios, provocando a morte de peixes e botos e interrompendo a produção de energia hidrelétrica. O governo do presidente Lula (PT) prevê que até 500 mil pessoas sejam afetadas pelo fenômeno climático.
Em novembro e dezembro começa a estação chuvosa na região, mas a análise do órgão indica que a crise pode se intensificar nos próximos meses, quando o El Niño deve atingir sua intensidade máxima.
A previsão do Cemaden é de que o último trimestre de 2023 tenha precipitação abaixo da média na maior parte do Brasil, sendo que o quadro mais agudo deve acontecer no Norte e no Nordeste. A exceção é a região Sul, que deve ter mais chuva do que o normal no período.
"A gente não pode cravar em pedra porque é uma previsão, então sempre tem uma margem de erro associada", pondera Alvalá, acrescentando, contudo, que o cenário é preocupante.
Em anos normais, os rios começam a encher com a chegada da temporada chuvosa. Mas, de acordo com as previsões para o final de 2023, há o risco de que alguns rios não atinjam os níveis regulares.
No mês de setembro, grande parte do Amazonas, Acre e Roraima registraram de 100 mm a 150 mm a menos de chuva do que o esperado para esta época do ano.
A soma da falta de chuvas com o aumento da temperatura levam à redução da umidade do solo, impactando a agricultura. Ainda segundo o Cemaden, em análise da pesquisadora Ana Paula Cunha, em setembro 79 municípios da região Norte tiveram mais de 80% de suas áreas agrícolas impactadas pela seca.
Os casos mais críticos são dos estados de Roraima, em que 13 dos 15 municípios estavam nessa situação; Acre, com 12 dos 22 municípios afetados; e Amazonas, onde 14 dos 62 municípios tiveram mais do que 80% da área agroprodutiva afetada.