Grupo bloqueia avenida na zona sul de SP contra implantação de programa para sem-teto

Por PAULO EDUARDO DIAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A iminente implantação de uma unidade da Vila Reencontro, equipamento da prefeitura voltado para pessoas em situação de rua, levou moradores do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, a realizar uma manifestação na tarde desta sexta-feira (20).

Eles bloquearam por alguns instantes uma faixa da avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, no sentido centro, em frente ao terreno onde será implantado um conjunto de moradias transitórias.

Equipes da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) acompanharam o ato, que foi pacífico.

A manifestação ocorreu horas depois de os moradores tomarem conhecimento da iniciativa da prefeitura. Ao menos um contêiner já está no terreno.

"O nosso protesto é pela segurança nossa e dos nossos familiares. Não sabemos quem são os moradores que a prefeitura pretende inserir em nosso bairro. Estamos apreensivos", disse o corretor de seguros José Marques Filho, 66.

Segundo ele, o maior medo dos moradores é que o terreno se torne extensão da cracolândia que existe na Santa Ifigênia, no centro da cidade.

"Já é uma região carente de muita coisa e você trazer um problema maior só vai piorar a situação", afirmou o empresário Ismar de Andrade, 44.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo confirmou que o local vai receber uma nova Vila Reencontro, sem precisar o prazo.

As unidades são destinadas prioritariamente a famílias, com ou sem crianças, que estejam vivendo nas ruas há menos de dois anos. Cada família deve permanecer entre 12 e 24 meses nas moradias transitórias da Vila Reencontro, e participar de capacitações profissionais e outros atendimentos sociais com o objetivo de ganho de autonomia, conforme a gestão Ricardo Nunes (MDB).

A movimentação no Jabaquara não foi a primeira de futuros vizinhos da Vila Reencontro contra o projeto, uma das principais respostas da gestão Nunes ao aumento da população em situação de rua na cidade.

Como mostrou a Folha, a criação de novas vilas já motivou abaixo-assinados, manifestações e até boatos de que os equipamentos levariam a cracolândia para os bairros em que são implementados. O furto de materiais chegou a atrasar em mais de um mês a inauguração de uma unidade do programa no Pari, região central.

Instalado há menos de uma semana, o canteiro de obras para a construção do equipamento de moradia transitória na região de Itaquera, na zona leste, foi vandalizado.

Ferramentas e materiais de construção foram furtados e um contêiner foi pichado com mensagens de ataque ao projeto da prefeitura, como "fora albergue" e "noia [termo pejorativo para usuários de drogas] aqui não".

Depois do episódio, ocorrido na madrugada desta quinta-feira (19), a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social registrou boletim de ocorrência e solicitou reforço de segurança à GCM.

O equipamento em implementação terá capacidade para abrigar até 50 famílias com crianças quando ficar pronto. A expectativa da gestão Nunes é que a nova vila seja inaugurada no primeiro trimestre de 2024, mas a depredação do canteiro pode atrasar o cronograma.

Conforme a prefeitura, a Vila Cruzeiro do Sul, na zona norte, foi a primeira a ser inaugurada em dezembro de 2022. Ela possui 40 unidades modulares que podem receber até 160 pessoas.

Já a Vila Reencontro - Anhangabaú, no centro, foi entregue em fevereiro deste ano e possui 40 unidades que podem acolher até 160 pessoas a depender da composição familiar. A do Pari, na zona leste, tem 100 unidades modulares que podem acolher até 400 pessoas.

Ainda segundo a gestão Nunes, está prevista para esse ano a entrega da Vila Reencontro Santo Amaro, na zona sul, com capacidade de acolher até 280 pessoas.