Usuários de drogas migram da cracolândia para proximidade de Paulista e Roosevelt

Por PAULO EDUARDO DIAS E CLAYTON CASTELANI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio às operações policiais que há um ano e meio tentam dissipar a concentração de usuários de drogas na cracolândia, grupos de dependentes químicos passaram a buscar abrigo sob viadutos e dentro de túneis movimentados da região central de São Paulo.

Dois endereços registram há pelo menos três meses um crescimento do fluxo de dependentes químicos, segundo relatos de moradores e trabalhadores locais, e acompanhamento da reportagem nesse período.

São eles o final do viaduto Júlio de Mesquita Filho, sob a praça Franklin Roosevelt, até o início do elevado presidente João Goulart (o Minhocão), na Consolação; e o trecho contíguo ao túnel José Roberto Fanganiello Melhem, que liga a avenida Paulista à avenida Rebouças.

No túnel que leva ao Minhocão, a concentração ganha corpo no período noturno, quando é possível visualizar usuários consumindo drogas nas calçadas de ambos os sentidos e no canteiro central. Durante o dia, os dependentes químicos costumam fumar o crack escondidos no acesso ao elevado.

Mesmo com tráfego de veículos intenso, uma vez que a via é uma importante ligação com a zona leste, a mais populosa da capital, os usuários atravessam a todo momento de um lado para o outro, apesar do risco de atropelamentos.

"Local muito arriscado onde fatalmente vai acontecer alguma tragédia. O poder público tem que agir rápido e não permitir a permanência de morador de rua ou usuário de droga", disse o presidente da Associação Geral do Centro de São Paulo, Charles Resolve.

Em 19 de outubro, um motorista atropelou 16 usuários de drogas que estavam no cruzamento da avenida Rio Branco com a rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia. A ação teria ocorrido após o condutor ter sido assaltado por dependentes químicos.

O local fica próximo da cracolândia, como é conhecido o ponto da maior concentração de usuários de drogas da cidade, que reúne centenas de pessoas.

No caso dos endereços próximos da Paulista e da Roosevelt, a quantidade de dependentes é visivelmente menor do que na cracolândia principal.

Equipes da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana têm abordado usuários nesses novos pontos, enquanto equipes da prefeitura realizam a limpeza da área, removendo lonas e barracas que servem de abrigo. Lâmpadas quebradas costumam ser repostas. O efeito das ações dura pouco. O fluxo é retomado horas após as ações.

A cena de uso aberto de drogas está próximo dos olhos das forças de segurança das gestões do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), já que existem na praça Roosevelt um batalhão da PM e uma base da GCM.

O ponto de consumo de drogas nas proximidades da avenida Paulista não é novo, mas o fluxo tem sido engrossado pela migração de usuários da cracolândia últimos meses, contaram trabalhadores de empresas que ficam no entorno.

"Os frequentadores habituais não causam problemas, nós já os conhecemos, mas há três meses grupos diferentes estão vindo da região central para cá. Eles são mais agressivos", conta Adriana Ricardi, 48, analista de logística que trabalha na região há dois anos e meio.

Um funcionário de um restaurante, que pediu para não ser identificado, disse que esses novos frequentadores têm estourado vidros de carros para furtar objetos durante à noite.

Os usuários permanecem sob o complexo de viadutos que dá acesso às avenidas Rebouças e Doutor Arnaldo, onde instalam barracas para realizarem o consumo de drogas.

Antes, ficavam na calçada do túnel sob a praça do Ciclista, no fim da Paulista. O local foi alvo de intervenção do poder público. Uma base móvel da PM tem permanecido na praça e, na calçada do túnel, a prefeitura instalou grades fixas.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo declarou que as regiões citadas são assistidas pelo Consultório na Rua, o qual realiza ações de rotina, como o acolhimento de pessoas que necessitam de cuidados em saúde, além de sensibilizar aqueles que estão dispostos a iniciar voluntariamente o tratamento para o uso nocivo de substâncias.

A gestão Ricardo Nunes acrescentou que a Secretaria Municipal de Segurança Urbana intensificou o patrulhamento comunitário e preventivo, com a ampliação do número de viaturas e motos em pontos estratégicos do centro de São Paulo.

Também por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que ações da Polícia Civil na região central resultaram em 404 flagrantes, 634 prisões e apreensão de 659 celulares até 1º de outubro. Somente na região da avenida Paulista, a Polícia Civil adota a Operação Speed Bike para conter criminosos que usam bicicletas para cometer roubos e furtos de celulares.