Sem luz, colégio de Embu das Artes (SP) tem recorde de faltas de alunos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A falta de energia que afeta o estado de São Paulo desde o temporal da última sexta (3) tem prejudicado as atividades em um colégio particular no bairro Novo Embu, em Embu das Artes, na região metropolitana.
Segundo a diretora Andreia Fernandes, 51, mantenedora da Escola Primeira Opção, o problema, que se arrasta desde as 16h30 de sexta, tem afastado alunos em um momento importante: a reta final do ano letivo.
Somente nesta quarta-feira (8) faltaram 40 estudantes matriculados do 6º ano ao 2º ano do ensino médio. O número é recorde, segundo a diretora. Vinte e um destes alunos faltosos são do 1º e do 2º ano do ensino médio.
De acordo com Fernandes, foram feitos vários chamados para a concessionária Enel desde o início da semana pedindo o reestabelecimento da energia, todos sem sucesso.
"Estou indignada com o descaso, pois não foi a primeira vez no ano [que houve queda de energia]. Já tive de cancelar aula", afirmou à Folha. "Essa região está tendo problemas com a Enel", acrescentou.
A Escola Primeira Opção tem uma segunda unidade na mesma rua, esta com luz, uma vez que a rede de transmissão seria diferente.
Com medo de novas quedas de energia, Fernandes afirmou ter comprado um gerador para usar no colégio. O equipamento custou R$ 40 mil, e a escola aguarda a instalação por um eletricista.
"Perdemos muitas coisas, pois temos cantina", disse. "A escola não parou nenhum dia, mas muitos pais não estão mandando seus filhos. Isso prejudica o trabalho pedagógico no final de um ano letivo."
Por causa do apagão, a escola, que tem uma parceria com o sistema Anglo, perdeu um simulado que deveria ter começado na segunda (6) com término previsto para esta sexta (10).
Questionada sobre quando a energia será reestabelecida na região da escola em Embu das Artes, a Enel não respondeu até a publicação desta reportagem.
Morador de um condomínio na mesma rua da escola, a alameda André Rebouças, o criador de conteúdo Cauê de Sordi, 26, comemorou a presença de funcionários da Enel na entrada do conjunto de casas na tarde desta quarta-feira.
Uma dupla de técnicos tentava remover uma árvore da fiação para iniciar os trabalhos de religação da energia.
"A água está acabando, porque é retirada de um poço. Sem energia não dá para bombear a água", afirmou Sordi, que disse que não estava conseguindo trabalhar por causa da falta de luz.
Ele disse ter contado com a solidariedade de vizinhos para conseguir tomar banho e recarregar o celular. "É um caos, e a gente tem sorte de o caminhão ter vindo agora, poderia ter demorado mais."
Segundo Sordi, um dos funcionários da Enel com quem conversou no início do dia, o relatou estar trabalhando sobrecarregado e dormindo poucas horas.
O condomínio é cercado por árvores, o que deixa os moradores ainda mais apreensivos com a possibilidade de novos casos de queda.
A professora Maria Cecilia Costacurta de Sá Porto, 68, também moradora no local, se disse incomodada com a declaração do presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, de que a redução de 35% do quadro de funcionários da concessionária desde 2019 não afetou a qualidade do serviço.
"Quem tem que avaliar isso não é ele, e sim os clientes", afirmou. "Como cliente, afirmo que desde que a concessionária passou a ser a Enel os cortes de energia e as quedas de voltagem são muito frequentes."
A moradora relatou que há cerca de duas semanas a chuva causou a queda de uma árvore dentro do condomínio e, como resultado, ficou 34 horas sem energia. Com isso perdeu alimentos que estavam na geladeira.
De acordo com balanço divulgado pela Enel às 10h desta quarta, cerca de 11 mil imóveis continuavam sem energia na região metropolitana.
Do total de endereços que estavam sem energia na manhã desta quarta, 4.600 estão na capital paulista. As cidades de Embu das Artes e Cotia tinham cerca de 3.000, cada uma, nessa situação.
Nesta quarta, a empresa disse que prestará aos órgãos públicos e autoridades todas as informações necessárias sobre a operação em sua área de concessão. "A companhia acrescenta que mantém uma relação de transparência com seus clientes e todos os seus públicos e está fortemente comprometida em oferecer um serviço cada vez melhor à população", afirmou, em nota.
Desde o fim de semana a empresa vinha dizendo que iria normalizar o fornecimento de energia "para quase a totalidade dos clientes até esta terça-feira [7]".
A demora no restabelecimento de energia provocou uma série de protestos na capital e na Grande São Paulo. Oito pessoas morreram no estado por causa do temporal e dos fortes ventos.