Obra do parque Princesa Isabel atrasa, e igreja celebra ação contra cracolândia do lado de fora
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um evento planejado para celebrar a reinauguração do parque Princesa Isabel, no centro de São Paulo, ocorreu neste sábado (2) com orquestra, canto lírico e corais, mas com o motivo da festa ainda fechado. A celebração, organizada pela 1ª Igreja Batista de São Paulo, ocorre cerca de um ano e meio após uma ação policial que retirou dali uma ocupação de usuários de drogas da cracolândia, que havia durado meses.
Em cartazes espalhados pelo bairro dos Campos Elíseos, o "Natal das Luzes" chegou a ser anunciado como uma "grande festa de reinauguração" do parque. Inicialmente, a cerimônia previa até o corte de uma faixa simbólica e a entrada do público para visitar o espaço reformado.
Segundo o pastor Paulo Eduardo, responsável pela 1ª Igreja Batista, a intenção da igreja era montar o palco dentro do parque, que foi cercado por grades no ano passado --a igreja chegou a ser informada, segundo o pastor, de uma previsão de reabertura para o dia 26 de novembro.
A antiga praça Princesa Isabel foi transformada em parque em junho do ano passado, em seguida à retirada dos usuários de drogas. As grades foram erguidas pouco depois, e o local chegou a ser reaberto ao público em março deste ano, mas isso durou apenas cerca de dois meses até que ele fechasse novamente para obras. A previsão inicial era uma reinauguração em setembro.
Segundo a prefeitura, ainda não há previsão de data para a reabertura.
A igreja insistiu em realizar o evento, mesmo sem a inauguração, e precisou ficar na avenida Duque de Caxias, em frente a um dos portões da Princesa Isabel, cercado por tapumes de metal.
Para o pastor Paulo Eduardo, o "Natal das Luzes" comemora a persistência da comunidade pelo tratamento e reinserção social dos dependentes químicos, e também a reconquista da praça, com a saída das barracas.
"A igreja testemunhou a degradação dessa região ao longo de décadas, o aumento do abuso de drogas, da venda do corpo. E nós resolvemos insistir e não abandonar a região, a recuperação do centro velho é muito importante para nós", disse o pastor. "E somos muito gratos pela recuperação da praça", ele acrescentou.
O fluxo da cracolândia, no entanto, ainda circula no entorno da praça. No fim de outubro, os usuários estavam a poucos metros dali, no outro lado da avenida Rio Branco, quando um homem atropelou 16 pessoas durante uma tentativa de roubo. No mês passado, o fluxo se fixou no entorno da estação da Luz, a cerca de um quilômetro do local da celebração.
O evento contou com uma apresentação do coral Cristolândia, composto por cerca de 100 homens que eram frequentadores da cracolândia e largaram as drogas após buscarem ajuda na igreja.
Diante do público e do coral, o pastor pediu que todos levantassem a mão e repetissem a frase: "a cracolândia vai virar cristolândia". Um coral de crianças e a Orquestra Concerto do Centro também se apresentaram. Havia cerca de 1.500 pessoas na plateia, segundo a estimativa da igreja.
O palco foi montado pela Prefeitura de São Paulo, e o evento contou com apoio do governo estadual. Em um intervalo das apresentações, o pastor Paulo Eduardo recebeu o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Gilberto Nascimento Jr.
O secretário disse que o evento natalino servia para "cravar a paz neste lugar". Ele pediu que o público e as pessoas que estivessem escutando nas sacadas e janelas dos prédios continuassem "acreditando, não num governo terreno, mas no poder de um governo eterno, que transformou tantas vidas como a gente viu aqui".
Nascimento Jr. se ajoelhou no palco e recebeu bençãos do pastor, enquanto o público levantava as mãos em direção a eles, em oração. Paulo Eduardo também pediu orações para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
"A Bíblia nos recomenda que nós oremos pelas autoridades constituídas, que nós oremos pela paz mas cidades", disse o pastor Paulo Eduardo."Não me sinto constrangido agora. Nós não estamos, de forma nenhuma, num ato político agora."
O secretário foi a única autoridade pública a subir ao palco. Enquanto ele estava ajoelhado, um homem que estava no lado de fora do evento, visivelmente alterado, chegou a subir no tapume metálico e gritar, provocando uma movimentação de seguranças. Batidas nos tapumes e gritos do lado de fora foram ouvidos em alguns momentos da cerimônia.
O local foi citado em pregações do evento como palco de "destruição e as piores tragédias do ser humano". "Nunca mais o centro velho de São Paulo será palco do crime e da destruição, do crime organizado", rogou um pastor no palco. "São Paulo pertence ao senhor Jesus Cristo."