Réplica do 14 Bis é retirada de praça de SP para restauro após 17 anos

Por MARIANA ZYLBERKAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Antes de a lona que cobre a estrutura metálica da réplica do avião 14 Bis ter se desprendido durante uma tempestade há cerca de um mês, outras alterações, menos perceptíveis, já haviam sido feitas no monumento instalado no centro da praça Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo.

Tais eventos levaram a Aeronáutica a enviar a réplica para restauro nesta segunda-feira (4), 17 anos após a última manutenção.

Além de substituir a lona rasgada pelos fortes ventos, os técnicos do Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP), responsáveis pelo conserto do monumento inaugurado em 1974, terão que pintar de branco a hélice e o trem de pouso, que receberam tinta preta em uma manutenção feita pela subprefeitura Santana.

A intervenção foi feita à revelia do departamento que cuida dos monumentos da cidade e percebida no início de outubro durante análise do relatório de limpeza feito por uma empresa terceirizada.

"De acordo com os procedimentos estabelecidos, todas as intervenções em obras do Acervo de Obras de Arte e Monumentos em Espaços Públicos da Cidade de São Paulo devem passar por uma aprovação prévia pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH)", diz trecho de documento, obtido pela reportagem, em que integrantes do DPH questionam a gestão municipal sobre a mudança na cor dos detalhes, o que a descaracterizou da versão original.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não comentou a intervenção no monumento. Em nota, afirmou apenas que a réplica do 14 Bis foi retirada da praça pela FAB (Força Aérea Brasileira) para ser restaurada.

Procurada, a FAB também não se pronunciou sobre as modificações na cor da hélice e do trem de pouso -somente confirmou as informações sobre o "conserto da estrutura, que precisa de reparos por conta de danos causados pelo tempo".

Em fotos do monumento no pátio do PAMA-SP, no bairro de Santana, enviadas pela Aeronáutica, é possível ver desgaste na estrutura metálica com focos de ferrugem e sem algumas partes.

Com previsão de ser concluído entre quatro e seis meses, o restauro deverá adequar a réplica ao modelo inaugurado em novembro de 2006 após o original ter sido depredado e furtado.

Seis meses antes da cerimônia que marcou a volta do monumento para a praça, em novembro daquele ano, a asa do avião desapareceu junto ao busto em homenagem a Santos Dumont. A inauguração teve a presença do então governador Cláudio Lembo (PSD) e de Gilberto Kassab (PSD), prefeito de São Paulo à época, durante as comemorações do centenário do primeiro voo de Dumont.

Na primeira versão, inaugurada em 1974, o artista plástico Luis Morrone -autor também do monumento em homenagem a Pedro Álvares Cabral no parque Ibirapuera- havia posicionado a figura do inventor do 14 Bis dentro da estrutura de alumínio.

No restauro pós-roubo, porém, o busto de Dumont foi fixado no pilar de mármore onde está a placa com a descrição do monumento. A estrutura de pedra chegou a ficar anos guardada na subprefeitura Santana após uma tentativa de roubo em 2018.

A réplica em homenagem a Santos Dumont, conhecido como o pai da aviação, fica a poucos metros do aeroporto Campo de Marte e do Hospital da Força Aérea de São Paulo.

A praça escolhida para receber o monumento também faz alusão ao marco na história da aviação, já que foi do campo de Bagatelle, em Paris, na França, que Santos Dumont decolou pela primeira vez, em 23 de outubro de 1906. O avião 14 Bis percorreu uma distância de 60 metros, a três metros de altura, e aterrissou. Foi o primeiro voo homologado, segundo a FAB.

Antes de ser renomeada como Campo de Bagatelle, em julho de 1974, durante as comemorações do centenário de Dumont, a praça se chamava Bandeirantes.