COP28 amenizará linguagem sobre abandono dos combustíveis fósseis

Por ANA CAROLINA AMARAL

DUBAI, EMIRADOS ÁRABES (FOLHAPRESS) - A menos de dois dias do encerramento, a COP28 busca um consenso entre os países sobre o abandono gradual dos combustíveis fósseis. O encontro da ONU sobre as mudanças climáticas acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e tem previsão de acabar nesta terça (12).

Com o afunilamento das negociações com a proximidade do fim do evento, alguns países começaram a se manifestar de maneira mais enfática contra a proposta em discussão.

Segundo uma negociadora de um país desenvolvido, o rascunho apresentado na última sexta-feira (8) --que apresentava opções sobre o abandono ou a redução dos combustíveis fósseis-- praticamente não teve a participação de nações que se opõem a essas medidas, já que elas não tinham ainda se posicionado nas discussões.

Na avaliação de observadores das negociações, o vazamento na sexta da carta da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) pode ter sido uma forma da Arábia Saudita dar um recado ao anfitrião da conferência de que quer ser mais ouvida nas conversas.

O texto da Opep defendia que o documento final da cúpula rejeitasse propostas que mencionassem a eliminação do uso de combustíveis fósseis. Em vez disso, apoiava menções a reduções de emissões de carbono.

O presidente da COP28, Sultan Al Jaber, tem afirmado ao longo das negociações que um avanço no compromisso com o abandono ou a redução dos combustíveis fósseis é uma condição para que a conferência seja percebida como um sucesso. Ele também é presidente da petroleira estatal Adnoc, o que fez ONGs e ativistas o acusarem de conflito de interesse.

Apesar da busca por uma sinalização positiva de que a COP28 apontará ao mundo uma transição energética das fontes fósseis para as renováveis, a tendência nesta fase final de negociações é que o compromisso ganhe uma linguagem mais fraca do que as consideradas no último rascunho, que falava em reduzir e eliminar os fósseis.

Entre as opções que os negociadores apostam como caminho para convencer as economias mais dependentes de petróleo a aceitarem o texto está uma proposta que sugere uma transição ou deslocamento dos investimentos, com aumento das renováveis ao passo em que se diminui as fontes fósseis.

Outro silêncio que se destacou nas negociações do final de semana veio do maior produtor de petróleo no último ano, os Estados Unidos. O país não se manifestou na reunião de ministros promovida na tarde deste domingo (10) pela presidência da COP28.

Nos bastidores, no entanto, os americanos teriam tentado propor que o texto em negociação trocasse a eliminação dos combustíveis fósseis pela eliminação das emissões desses combustíveis --indo ao encontro daproposta da Opep.

Os EUA não fazem parte da organização, assim como o Brasil. O presidente Lula (PT), porém, aceitou um convite para integrar a Opep+, que reúne países produtores que são aliados do grupo.

Observadores das negociações esperam que a linguagem usada em uma declaração conjunta de EUA e China em novembro sirva de parâmetro do que os dois países estão dispostos a aceitar no texto final da COP28.

Na declaração, Washington e Pequim afirmam a intenção de acelerar a implantação de renováveis e a substituição de gás, petróleo e carvão, antecipando a redução das emissões no setor elétrico (o que deixa de fora o setor dos transportes).

Enquanto a China sinaliza disposição para negociar a saída dos combustíveis fósseis, a Índia tem recusado qualquer compromisso com o abandono do seu uso --o país é altamente dependente do carvão.

Como presidente do Basic (que reúne também China, Índia e África do Sul), o Brasil tenta encontrar uma linguagem que agrade aos indianos.

Para os brasileiros, a condição mais importante para a aprovação de um abandono dos combustíveis fósseis é a criação de um calendário no qual os países desenvolvidos saiam na frente. Um novo rascunho sobre o texto é esperado para a manhã desta segunda-feira (11).

Já o rascunho sobre o objetivo global de adaptação climática circulou neste domingo (10). Nele, os países buscam definir metas setoriais e uma estrutura para avaliar necessidades e projetos que possam se submeter a financiamento internacional. A disputa é bem dividida entre o bloco desenvolvido (responsável por financiar as ações de adaptação climática no mundo) e os países em desenvolvimento.

Pauta urgente para os países mais vulneráveis ao clima, como as pequenas ilhas, a adaptação ficou travada ao longo da primeira semana da conferência e o seu rascunho foi o último a ser apresentado, o que causou temores de que a pauta, virasse refém nas negociações de outras demandas.

Um grupo de países em desenvolvimento, incluindo nações árabes, têm criticado a agenda de adaptação. Eles defendem o princípio das "responsabilidades diferenciadas", previsto na convenção do clima da ONU.

Segundo essa ideia, cabe aos países desenvolvidos, responsáveis históricos pelas emissões que causam a crise climática, liderar a agenda e financiar os esforços das nações em desenvolvimento.

Já o bloco desenvolvido argumenta que a adaptação também exigirá recursos nos seus países e se recusa a discutir um número como meta para o financiamento da adaptação climática.