Rotina de sérvio apontado como matador era discreta e familiar, dizem vizinhos

Por JOÃO PEDRO FEZA

SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - Uma semana após o assassinato do sérvio Darko Geisler, 43, vizinhos ainda se recuperam do choque pelo crime e desdobramento do caso em Santos, no litoral paulista.

A Polícia Civil de São Paulo informou que Geisler, que se apresentava como esloveno Dejon Kovac, vivia clandestinamente no Brasil desde 2014 e era procurado internacionalmente por assassinatos mediante pagamentos no Leste Europeu.

Sob condição de anonimato, pessoas próximas descrevem o contraste das revelações recentes com a rotina discreta e familiar de Geisler ao lado da esposa e do filho de quatro anos no tradicional bairro santista do Embaré.

Foi ali, quando chegava de bicicleta na noite de sexta-feira (5), que o sérvio foi assassinado por um atirador na frente da mulher e da criança, que não se feriram. O assassino, que usava máscara e luvas, teria fugido em um carro preto sem deixar pistas.

De acordo com uma vizinha, a situação lembra filmes de ação e espionagem. Ela relata ter ouvido quatro estampidos, que associou a fogos de artifício, mas logo ouviu os gritos de uma voz feminina que vinham da rua. Assim que presenciou a cena, chamou a Polícia Militar e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que fizeram o primeiro atendimento. Geisler teve morte constatada em hospital.

A vizinha diz que o casal costumava levar o filho até uma escola municipal do bairro e que trocava cumprimentos com o sérvio e a esposa sempre que se encontravam na calçada. Ela diz que ele falava pouco, aparentando dificuldade no domínio da língua portuguesa, mas que a mulher era receptiva e comunicativa.

Outro vizinho diz que fazia brincadeiras com o menino na rua e que era comum vê-lo com a mãe e o pai em direção à padaria no fim da quadra. No estabelecimento, funcionários afirmam que o sérvio comprava diariamente cigarros.

Quando questionado sobre o que fazia, apresentava-se como marceneiro.

A 15 minutos do prédio, na orla santista, um comerciante croata diz ter conhecido o sérvio há seis anos, quando se dizia esloveno, e que a primeira impressão não foi positiva.

O sérvio jamais apareceu no comércio do croata após aquele encontro. Croata e Sérvia adotam a mesma variante da língua (servo-croata) e ambos os países integraram a antiga Iugoslávia, assim como a Eslovênia.

Responsável pelas investigações em Santos, o delegado titular do 3º Distrito Policial, Luiz Ricardo Lara Dias Júnior, não concedeu entrevista nesta sexta-feira (12).

Na quinta (11), ele confirmou em entrevista à imprensa que o sérvio não tinha documentos regularizados no Brasil nem havia registrado o filho. "As investigações apontaram que ele viveu clandestinamente por aqui e com nome esloveno falso", disse.

Ele também informou que o homem não mantinha atividade remunerada no Brasil e que, segundo apurações iniciais, seu dinheiro vinha de familiares no exterior. Foi a Polícia Civil de Santos que fez contato com o Consulado da Eslovênia e constatou que nacionalidade eslovena era falsa e o passaporte pertencia a outro cidadão.

Depois disso, a Polícia Civil começou a investigar suspeita de que o sérvio seria matador de aluguel. A tese foi reforçada com a descoberta de um assassinato cometido em Montenegro, país ao lado da Sérvia, com armas e bombas.

Segundo a Polícia Civil de Santos, o suspeito por aquele crime tinha as características físicas de Darko Geisler -o que foi confirmado com impressões digitais fornecidas pela polícia de Montenegro.

"Foi aí que se associou que Dejon era Darko, inclusive procurado há uma década pela Interpol [Organização Internacional de Polícia Criminal]", detalhou Dias Júnior na entrevista.

"A possibilidade é, portanto, de que esse homicídio em Montenegro esteja ligado a outros cometidos pela mesma pessoa na região do Leste Europeu", complementou. Em dezembro de 2014, Geisler foi para a Bósnia e, de lá, veio direto para o Brasil, já com identidade falsa.

Em meio às apurações policiais, um brasileiro que se passava por cidadão croata chegou a ser detido com drogas e balança de precisão em hotel do Jardim Castelo, em Santos, no dia 5 de janeiro. Até o momento, não foi constatada nenhuma ligação entre os casos.

A esposa do sérvio prestou depoimento à polícia e declarou desconhecer as supostas práticas criminosas do marido. A polícia ainda não identificou quem seriam o mandante e o executor do assassinato nem as motivações do crime.

Autoridades europeias e paulistas seguem com as investigações para detalhar as ligações do sérvio com outras ações violentas e homicídios na Europa.