Helicóptero é localizado em região de mata em Paraibuna (SP) sem sobreviventes

Por FRANCISCO LIMA NETO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após 11 dias de procura, o helicóptero que desapareceu rumo a Ilhabela, no litoral de São Paulo, foi localizado em uma área de mata densa em Paraibuna (SP), na manhã desta sexta-feira (12). As quatro pessoas que estavam a bordo morreram, segundo a Polícia Militar.

"Todos os corpos foram encontrados dentro da aeronave. Todos estão mortos", disse o coronel Ronaldo Barreto de Oliveira, comandante da Aviação da PM.

Imagem divulgada pela corporação mostra destroços do helicóptero em meio a vegetação fechada. A aeronave foi localizada pelo helicóptero Águia 24 da corporação. Uma clareira foi aberta na mata, e policiais desceram de rapel no local para verificar os destroços.

O helicóptero desapareceu na tarde de 31 de dezembro após adentrar em trecho de forte neblina no trajeto entre São Paulo e Ilhabela. Vídeo e mensagens enviadas por piloto e passageira reportaram ausência de visibilidade para sobrevoar a serra do Mar e um pouso às margens de uma represa em Paraibuna.

"A aeronave foi identificada na região de Paraibuna, uma região de mata densa, onde foi necessária uma outra aeronave para que nossos tripulantes pudessem acessar o local. Saliento a todos que foi um trabalho de investigação da Polícia Militar junto com a Polícia Civil para que pudéssemos compartilhar nossas informações e alcançar nosso objetivo", disse a capitão Natália, do Comando de Aviação da Polícia Militar.

Desde o primeiro dia do ano as buscas eram feitas com helicópteros e aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), Polícia Militar e Polícia Civil. O trabalho depois ganhou reforço de equipes do Exército. A família do piloto e a empresa CBA Investimentos, operadora da aeronave, também mantinha buscas em solo com cerca de 20 mateiros usando drones, binóculos e outros equipamentos.

Estavam a bordo o empresário Raphael Torres, 41, a vendedora de roupas Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, a filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, e o piloto Cassiano Tete Teodoro.

Mãe e filha moravam na zona norte da capital paulista, no bairro do Limão. Segundo os familiares, Luciana e Letícia foram convidadas por Raphael Torres, amigo da mãe.

Durante a viagem, o empresário chegou a avisar o filho por uma mensagem de áudio sobre as condições climáticas adversas na cidade litorânea e indicou que a aeronave faria uma mudança de rota para Ubatuba.

"Filho, eu vi que você leu a minha mensagem agora, acho que vou para Ubatuba. Ilhabela está ruim. Não consigo chegar", disse.

Em mensagem para o namorado, Letícia também falou do mau tempo. "Pousamos", "No meio do mato", escreveu a jovem. O namorado então teria perguntado o local do pouso, e Letícia respondeu não saber.

Por volta das 14h do dia 31 de dezembro, a jovem enviou um vídeo que mostrava forte neblina ao redor da aeronave. "Tá perigoso. Muita neblina. Eu estou voltando."

O celular de Luciana parou de emitir sinais às 22h14 de 1º de janeiro, dia seguinte ao desaparecimento.

"Se o telefone da Luciana ficou funcionando até o dia 1º, às 22h14, que estávamos monitorando, ele ficou fora da água. Na água ele não iria transmitir [sinal]", afirmou à TV o delegado Paulo Sérgio Pilz, no sábado (6).

As autoridades investigam se os passageiros eram conduzidos por um serviço irregular de táxi aéreo. O piloto Cassiano Teodoro teve sua licença e todas as habilitações cassadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em setembro de 2021, por transporte aéreo clandestino, fraudes em planos de voo e por fugir de uma fiscalização.

Ele obteve uma nova licença em outubro do ano passado, após ficar afastado pelo prazo máximo de dois anos, mas, segundo a Anac, ainda não estava habilitado a realizar voos com passageiros.

A empresa que operava o helicóptero tampouco tinha autorização para transporte aéreo de passageiros e, em 2022, o MPF (Ministério Público Federal) recomendou que várias empresas de aviação se abstivessem de alugar aeronaves às companhias de Teodoro, após identificar que ele atuava de forma clandestina.

A defesa de Teodoro afirma que houve uma punição indevida contra o piloto e que fiscais da Anac cometeram irregularidade durante uma fiscalização.

SEM VISIBILIDADE NO VOO

Em áudios da conversa entre Cassiano Teodoro e Jorge Maroum, dono do heliponto onde o helicóptero deveria ter pousado em Ilhabela, o piloto se queixou da falta de visibilidade na serra do Mar causadas pelas condições meteorológicas adversas.

"Eu estou na fazendinha, mas não estou conseguindo cruzar, tá tudo fechado, tá colado [quando a camada de nuvem está 'colada' ao chão, impedindo visão horizontal e vertical]", relatou o piloto.

Segundo Maroum, fazendinha é como os pilotos costumam chamar uma parte mais baixa da Serra do Mar, antes da chegada a Caraguatatuba. Para Maroum, cercado pela neblina o piloto pode ter tido uma "desorientação espacial". "Como se estivesse num labirinto", disse.